Rede Kunhã Asé debate produção científica das mulheres durante a pandemia

Lives vão acontecer às quartas-feiras do mês de maio

Por Claudiane Carvalho*

É “Coisa de Mulher” conversar sobre ciência e solidariedade em tempos de pandemia. Durante o mês de maio, nas quartas-feiras, às 15h, a Rede Kunhã Asé – Mulheres na Ciência promove bate papos, através de lives (@kunhaase), com renomadas cientistas sobre carreira acadêmica, maternidade, trabalho em campo e divulgação científica. A primeira edição do evento acontece no próximo dia 6 e tem como convidada a professora Dra Mercedes Bustamante (UnB), que vai refletir sobre as pesquisadoras em posições de poder nas ciências. A mediação será da professora titular do Instituto de Biologia da UFBA, Blandina Viana, vice-coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Inter e Transdisciplinares sobre Ecologia e Evolução (INCT IN-TREE) – apoiador da rede.

Com a proposta de debater a disparidade de gênero nas ciências, oferecendo soluções pragmáticas para ampliar a representatividade de mulheres no campo, o evento busca criar uma rede de apoio intelectual e emocional especialmente neste momento de isolamento social. Segundo a bióloga Luisa Diele-Viegas, uma das fundadoras da rede e doutora em ecologia e evolução, os relatos de comprometimento da produção acadêmica por parte de mulheres têm sido constantes. “Estamos acompanhando também reportagens e mapeamentos da submissão de artigos em periódicos que mostram que a mulher está sendo mais prejudicada durante a pandemia do que o homem”, observa. “A pressão do lugar social de dona de casa e do papel de mãe provoca uma sobrecarga nesse momento de isolamento que está se refletindo na produção”, explica.

Embora haja um aumento significativo da participação feminina na ciência no Brasil, os desafios ainda são muitos face ao contexto de patriarcalismo que marca a constituição a sociedade brasileira.  Segundo dados do Censo de Grupos de Pesquisa do CNPq, de 1995 a 2015, o número de mulheres pesquisadoras no Brasil saltou de 39% a 50%. Na liderança dos grupos de pesquisa, elas passaram de 34% a 46% dos líderes. Apesar dos índices serem positivos, o crescimento ou manutenção desse cenário depende também da forma como as mulheres irão atravessar esse momento de crise sanitária.

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(foto: Walter Costa Neto)
(foto: Walter Costa Neto)

Para a bióloga Luciana Leite, também fundadora da rede e doutora em Ecossistemas Florestais e Sociedade, o tema da desigualdade é imponente e ganha maior relevância em cenários de crise. Por conta disso, a Kunhã Asé idealizou uma programação específica para o momento, substituindo os encontros presenciais, oficinas e minicursos previstos anteriormente por atividades online. A professora Blandina Viana, incentivadora do coletivo,  ressalta que a universidade é o espaço do debate, da reflexão, da formação e tem um papel importante no combate das desigualdades.

Mulher de poder!
Este é o significado do nome da rede, que vem de uma mistura do Guarani (kunhã, que quer dizer mulher) e do Yorubá (asé, que quer dizer poder), uma homenagem aos povos da floresta e ao povo negro que, ao logo da história, não têm representatividade na ciência. Criada pelas biólogas Luisa Diele-Viegas, Luciana Leite, Gabriela de La Rosa e Caren Queiroz, a rede foi, oficialmente, lançada em novembro de 2019 e, atualmente, já conta com 30 integrantes de diferentes unidades da UFBA e outras instituições.  Entre os projetos do coletivo, destacam-se, além das rodas de bate papo, oficinas direcionadas às especificidades da condição da mulher na carreira acadêmica e atuações em espaços de ensino fundamental e médio, mediante produção de material didático.

Mercedes Bustamante: uma “mulher de poder”
Primeira convidada do evento “Coisa de Mulher”, a cientista Mercedes Maria da Cunha Bustamante é bióloga e professora da Universidade de Brasília (UnB). Com doutorado em Geobotânica na Universidade de Trier (Trier, Alemanhã), é uma das mais importantes especialistas sobre o cerrado brasileiro. Já foi contemplada com o Prêmio Cláudia na categoria Ciências (2007) e recebeu o Prêmio Verde das Américas no IX Encontro Verde das Américas (2009). Foi uma das coordenadores do primeiro estudo que demonstrou a ligação entre a emissão de gases estufa e a pecuária no Brasil. É membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e conselheira do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

 Serviço
O quê: Coisa de Mulher: papos sobre ciência e solidariedade em tempos de pandemia
Quando: quartas-feiras de maio, às 15h
Onde: @kunhaase
Primeira edição: dia 6, pesquisadoras em posições de poder com Mercedes Bustamante
Próximas edições: 13/05 – Cientista e mãe: impactos, desafios e necessidades; 20/05 – Mulheres no trabalho de campo; 27/05 – Mulheres na divulgação científica e na educação

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