Cantora e estudante de jornalismo: Gab Ferreira conta como conciliar a vida dupla

Agenda Arte e Cultura conversou com a ex-participante do programa The Voice

Por Gabriel Moura

Quando subiu ao palco do The Voice, em 2017, Gab Ferreira estava muito nervosa. “Estava me tremendo toda”, relata. Mas mesmo assim não intimidou-se e começou a cantar “Ilê Pérola Negra”, de Daniela Mercury, colocando todos os quatro jurados do programa para dançar. Quando Carlinhos Brown apertou o botão e virou-se, ela não conseguiu esconder o sorriso e a felicidade de ver seu sonho realizado. Não era a primeira participação dela em um programa de calouros na televisão. Antes, em 2016, ela participou do Superstar, também da TV Globo, com a sua banda na época, a Alphazimu. Com seu talento, garra, luta e experiência adquirida no programa anterior, a cantora baiana conseguiu chegar a semifinal do The Voice, o que rendeu a ela a visibilidade que ela queria. “Até hoje me reconhecem na rua.

Pessoas do Brasil inteiro, e até de fora, demonstram interesse no meu trabalho e isso é muito gratificante”, conta orgulhosa. Mas, além de cantora, Gab também estuda Jornalismo na UFBA, para agregar conhecimento a sua carreira como artista e também como um “plano b”. “Se a carreira não der certo, vou poder trabalhar com outras coisas”, conta. Mas mesmo assim, a baiana, que se inspira até artistas em até angolanos, como a Yola Semedo, se mostra confiante em realizar o seu sonho de viver da e para a música, que alimenta desde que se descobriu cantora três anos atrás.

Quando você decidiu ser cantora?

Eu nunca tive essa pretensão de ser cantora. É muito recente essa aceitação. Apesar de todos sempre dizerem que eu cantava bem, que se emocionavam ao me ouvir cantando, eu não me reconhecia como tal até pouco tempo atrás. Até por uma questão de auto-estima.  Tem essa questão de se aceitar e achar capaz para fazer as coisas. Eu não me achava boa o suficiente. E, quando eu entrei no colégio militar e comecei a cantar na escola, subir no palco pela primeira vez  quando eu tinha 15,16 anos, mas não cantava profissionalmente. Isso veio depois do colégio quando eu pensei “é as pessoas gostam de me ouvir cantar”. E, ainda depois do colégio, demorou para eu me reconhecer. Por isso digo que é bem recente pois tem uns 3 anos desde que decidir viver da música.

Antes de virar cantora, você era dançarina. Como se deu essa “transição entre artes”?

Eu fiz balé, jazz, dança moderna, ginastica rítmica, stiletto. Quando eu entrei no Colégio Militar as portas fecharam para a dança, pois não havia tempo para conciliar o horário da escola com as aulas de dança. Dei uma pausa e foquei mais na musica. Era o momento da musica. A transição foi processual, ela foi acontecendo.

Eu soube que sua família é ligada a música. No que isso te ajudou na sua trajetória?

Na verdade ela é ligada no sentido de amar música. Mas tanto meu pai quanto minha mãe gostaria de ser músicos, no entanto nunca estudaram ou aprenderam algum instrumento. Eu digo que eles são “músicos encubados”, pois sempre desejaram ser, mas nunca se permitiram. Ambos são afinados e meu pai diz que vai aprender a tocar violão antes de morrer. Tem meu avô de criação por parte de mãe, que era um músico bastante conhecido no interior, em Terra Nova. Vavá Melo o nome dele. Eu o conheci quando era bem criança e quando ele faleceu eu também era pequena também, então não tive muita influencia direta. Mas acredito que de alguma forma ele acabou me influenciando.

E quais são as suas influências?

São muitas. Inclusive por isso eu tive muita dificuldade de definir o que eu iria cantar. Hoje eu tenho muito influencia daqui da Bahia, desde musica do gueto a Axé Music e samba reggae. Tenho influência também de cantoras lusitanas, como a portuguesa Sara Tavares. Tem uma cabo-verdiana que é Mayra Andrade, tenho muita influencia dela na forma de cantar. Também tem a Yemi Aladê, que é nigeriana e a Yola Semedo que é angolana. Alguns instrumentistas de lá também. Muitos mais “do lado de lá” do que americanos, por exemplos.

E como você chegou nesses artistas não muito conhecidos aqui do público brasileiro?

Muita pesquisa. Eu estava buscando influências de fora daqui. Eu ficava passeando no Youtube e alguns amigos também me mandavam alguma coisa. E a internet é um universo que nos aproximam de muitas coisas. Eu queria saber o que acontecia do lado de lá.

Você atualmente cursa jornalismo aqui na UFBA. Você faz faculdade por paixão ou para ser um plano b?

Eu fiz Odontologia por três semestres e vi que não daria certo por ser um curso em turno integral e caro. Eu também estava naquele processo de “vou ser cantora”. Então comecei a pensar em fazer um curso que agregasse a minha carreira. Então eu pesquisei e encontrei a Comunicação Social. E este curso, que além da questão de agregar, abriu muito a minha cabeça para diversas questões, não deixa ser um plano b. A gente tem que considerar se a carreira não der certo. Se isso acontecer, vou ter capacidade para trabalhar com outras coisas, que podem até ser com arte.

E como é conciliar a vida de cantora com a de estudante?

É bem difícil. Por conta disso eu pretendo formar só em 2019 sendo que era para ser em 2018. Tive que alongar a conclusão do curso por conta da carreira. Foi uma escolha fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Algumas vezes fui prejudicada e não tive como dar conta, mas nem por isso desisti.

Você participou da banda Alphazimu. Como foi essa experiência?

É um projeto que já existia há um tempo quando eu entrei.  Era uma banda formada por homens que estavam buscando uma cantora para fazer dupla com o Henrique CH, que já era o vocalista da banda. E aí eles me chamaram. Eram músicos que já tinham outras bandas e tocavam com alguns artistas já consolidados no mercado e que estavam buscando um projeto paralelo. Eu fiquei surpresa quando me chamaram pois eu não tinha experiência com banda e eles são músicos respeitados aqui. Então eu vi aquilo como uma oportunidade de me inserir no mercado e crescer com artistas muito bons. Era um projeto que dialogava com um estilo musical que eu curto, o ijexá. Fiquei por três anos na banda e ela infelizmente não está atuando mais pois não estava fluindo.

Mas, antes do fim, vocês participaram do programa Superstar. Como foi essa participação?

A gente decidiu participar do programa pois o vimos como uma oportunidade de reverberar o nosso som por todo o país. Até por isso ficamos um pouco receosos do nosso som ser bem recebido, pois ele era muito regional. Até por isso adaptamos um pouco o repertório. A gente ganhou muita visibilidade e para mim, pessoalmente, foi bastante positivo. Infelizmente depois do programa não aproveitamos a visibilidade que ele nos proporcionou e as coisas não aconteceram como imaginávamos por questões internas do grupo, e de mercado também.

Depois do Superstar, você foi para o The Voice. Como foi a experiência por lá?

Maravilhosa. Foi uma oportunidade incrível de mostrar quem é Gab Ferreira, além da Alphazimu, pois só me conheciam por causa da banda. E eu consegui uma visibilidade muito boa. Até hoje me reconhecem na rua, perguntam quando vai ter show. Pessoas do Brasil inteiro, e até de fora, falam comigo e demonstram interesse no meu trabalho e isso é muito gratificante.

Na hora das apresentações você ficava muito nervosa?

Eu me tremia mais que tudo. Mas ao mesmo tempo eu estava com uma mentalidade de “Gab, dê o seu melhor, fique tranquila. O que vier é lucro”. E assim fui levando até o fim da minha participação e consegui ir até a semifinal. E também a experiência do Superstar me deu muita bagagem para participar do The Voice.

E o que é pior, prova da faculdade ou ter quatro cantores consagrados na sua frente para te julgar?

Boa pergunta (risos). Eu acho que é uma questão de preparo. Eu me sentia muito mais pronta quando subi ao palco do que para as provas pois tinha me dedicado muito mais para aquilo. Acho que quando uma pessoa se dispõe a fazer duas coisas, dificilmente fará ambas muito bem. Cantar é o que sei fazer melhor e estou muito focada em fazer isso, é a minha prioridade no momento. Mas também estou me dedicando a terminar o curso, é algo que também está na minha lista de prioridades.

E como foi sua relação com Carlinhos Brown, o seu técnico no The Voice? O que você aprendeu com ele?

A gente não teve muito contato. Na época das batalhas foi quando conversamos mais. Ele me incentivou muito a dar o meu melhor, respeitando as minhas influências. Acho que aprendi muito mais com o programa em si do que com a pessoa Carlinhos Brown.

E o que você aprendeu com o programa?

A acreditar em mim, superar meus desafios, a pensar estrategicamente, respeitar o outro artista, pois estamos lá o tempo todo com outros artistas, muito diferentes do nosso estilo mas que são tão bom quanto a gente. Cada um tem a sua qualidade dentro das diferenças.

E como você lidou com a frustração da eliminação em ambos os programas?

No Superstar estávamos muito mais tranquilos, pois era grupo e um fortalecia o outro. Já quando você vai sozinha é bem louco. Eu sempre ia pensando que podia ser eliminada mas que gostaria de sair com a sensação de dever comprido, que fiz o meu melhor. Por isso eu saí de lá muito grata, feliz e orgulhosa de mim pelo que conquistei, pois consegui chegar a semifinal. Não teve frustração.

E o que você acha que é necessário fazer para você dar o seu próximo passo na carreira, de fazer sucesso e ser mais reconhecida?

Eu estou tentando dar esse passo. De produção de show, planejamento de carreira, saber onde quero chegar, conhecer quem é meu público. O próximo passo é planejar a carreira mesmo. Não há uma fórmula pronta do que fazer, mas temos caminhos para não ficar parado. Aproveitar a oportunidade que as redes sociais e o próprio mercado nos dão para mostrar nosso trabalho. O importante é não ficar parado. Eu adoro meter a mão na massa. Todo artista tem que ter controle sobre a sua carreira, o resto é consequência.

E como está a sua carreira agora?

Ainda não comecei a fazer show com banda. Eu estou fazendo alguns acústicos, com voz e violão.  Também iremos gravar alguns singles para serem lançados até o meio do ano e vem. A partir deles vamos gravar o nosso CD com essas músicas e outras. Vai ter clipe também com esse primeiro single. Tem muito material que estamos preparamos.

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