Festival destaca gastronomia e cultura no oeste da Bahia

Por Carla Letícia Oliveira

O papel intrínseco da gastronomia na formação e expressão da identidade cultural dos baianos, e a importância dessa relação no processo de aprendizado de futuros profissionais. Esses temas foram o fio condutor de um projeto que busca redescobrir, revisitar e divulgar a diversidade gastronômica das cidades do interior da Bahia, por meio da realização de festivais em diversas regiões.

No mês de outubro, a  primeira edição do Festival de Gastronomia e Cultura do Oeste da Bahia atraiu um grande público e levou um novo olhar para o Centro de Eventos Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, 942 km a oeste de Salvador. Professores e estudantes do curso de graduação em gastronomia, da Universidade Federal da Bahia, estiveram presentes no evento, cujo propósito principal foi destacar a culinária local como fonte geradora de renda e divulgadora da cultura do lugar.

Reunindo profissionais do setor de alimentos e bebidas, empreendedores, cozinheiros e amantes da gastronomia, o Festival promoveu, durante quatro dias, diversas atividades que permitiram a participação de todos. Com programação que incluiu aulas-show, oficinas gastronômicas, degustações, rodas de conversa e palestras, o evento contou com estrutura completa de stands para exposição e comercialização de produtos e pratos, além de voluntários como auxiliares de cozinha, em sua maior parte estudantes.

Chefs renomados e pesquisadores de outras universidades, além da UFBA, foram convidados para o Festival, “como uma forma de incentivo e democratização da gastronomia”, conta a professora e chef, Rosa Gonçalves. Dona de uma escola de culinária em Salvador, que leva seu nome, ela teve o apoio do Sebrae-Bahia, da Prefeitura e da Associação Comercial do Município de Luís Eduardo, para a realização do evento na cidade. Para ela, diversos olhares e formas de trabalho são essenciais para que o projeto atinja seu objetivo: “Esses chefs trazem suas propostas de trabalho e seus conceitos de valorização do profissional, e do produto regional, para os Festivais. Em contrapartida, levam a experiência da gastronomia de cada região da Bahia, dos seus produtos e das suas histórias, para os seus locais de trabalho e para outros eventos, divulgando a excelência dos produtos da região”. Nessa edição, entre os chefs convidados estavam Edinho Engel, proprietário do restaurante Amado, e Fabrício Lemos, chef do restaurante Almare, ambos de Salvador.

ESTUDO NA PRÁTICA

No total, 38 alunos de diferentes semestres, graduandos de gastronomia na UFBA, estiveram em Luís Eduardo Magalhães. A coordenadora do curso, Tereza Oliveira, destacou a participação dos estudantes como essencial para a realização do evento, bem como para formação profissional deles. “Os alunos foram voluntários, como apoio técnico para preparo e montagem das oficinas, mas também realizaram visitas e fizeram contatos que acrescentaram muito às suas experiências; o que pode representar, até mesmo, novas possibilidades de trabalho”, diz ela.

Diferentes formas de atuar na profissão e aprender qual a melhor maneira de lidar com as pessoas em seu local de trabalho foram os aspectos destacados por Kleber Dias como o maior aprendizado do evento. Estudante do 4º semestre de gastronomia, esse não foi seu primeiro Festival, mas foi o que mais o surpreendeu, principalmente pelo contato com uma região tão peculiar. “Tive oportunidade de fabricar pão caseiro com uma senhora que utilizava seu próprio fermento. Além disso, conhecemos fazendas de café, laranja, algodão… e vimos criação de peixe de alta qualidade”, diz Kleber.

Segundo Rosa, as expectativas com o público e a programação foram totalmente alcançadas, e novos eventos já estão previstos em diversas cidades. “Agora estamos produzindo o Festival de Itacaré, na Costa do Cacau, em parceria com a Secretaria de Turismo do Município, e com o mesmo objetivo de valorização da cadeia produtiva local”, conta ela.

Fotos: Divulgação do evento.
Fotos: Divulgação do evento.

GASTRONOMIA DO INTERIOR

Sulistas, baianos, provenientes do sertão, e nordestinos, de diversos estados, são a mistura que compõe, basicamente, a população de Luís Eduardo Magalhães. Esse foi o aspecto que fez da cidade a melhor escolha para a realização do primeiro festival na região oeste, como afirma Rosa: “Para quem é profissional de gastronomia, é um prato cheio encontrar, em um só município, pessoas oriundas de diversos estados do Brasil. Isso se dá pela possibilidade de conhecer várias identidades gastronômicas ao mesmo tempo, em um só espaço”. Na cidade, a chef encontrou convivência de várias cozinhas regionais peculiares e visualizou um bom campo para desenvolver um grande trabalho de pesquisa gastronômica.

A mobilização de agricultores, empreendedores e produtores autônomos locais, bem como o incremento da visitação turística e a qualificação da cadeia produtiva são alguns dos aspectos que permitem à gastronomia um lugar de destaque e incentivo na região. Ingredientes locais são utilizados como novas alternativas às técnicas de trabalho na cozinha. Favorecer a agricultura familiar e o comércio, formar a identidade do lugar com exaltação de suas características culturais próprias e valorização regional é a proposta principal de eventos e projetos que buscam reunir parcerias entre o público/privado, em prol do fortalecimento da identidade gastronômica, histórica e cultural.

O próximo Festival de Gastronomia e Cultura do Oeste da Bahia acontecerá no ano que vem, mas ainda não tem data nem local definidos.

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