Congresso UFBA 2019: Mesa apresenta pesquisa sobre Fake News durante as eleições de 2018

Pesquisadores do INCT-DD apresentaram seus trabalhos na Facom

Por Luciana Freire

As redes sociais modificaram a nossa forma de consumir conteúdo e se tornaram um novo canal de fonte de informação, com vínculos afetivos na sua lógica de uso. Terreno fértil para às Fake News. Esse tema emblemático foi o foco do debate na mesa “Jornalismo e Fake News”, que aconteceu no segundo dia de atividades do Congresso UFBA 2019. No auditório do Pavilhão de aulas Glauber Rocha, os jornalistas e pesquisadores Malu Fontes, Tatiana Maria Dourado e João Guilherme Bastos dos Santos apresentaram as suas pesquisas de coleta e análise de dados de fake news nas redes sociais Facebook, Twitter e WhatsApp, com o foco de análise na sua circulação durante as eleições de 2018.

A mesa apresentou o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores João Guilherme e Tatiana Maria, que fazem parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital  (INCT DD). O Instituto tem sede na Faculdade de Comunicação da UFBA, e é coordenado pelo professor Wilson Gomes.

Malu Fontes fez a mediação do debate, além de uma introdução ao tema. Essa que foi em 2017 eleita como a palavra do ano pelo Dicionário de Oxford, Fake News e pós-verdade vão muito além do que o termo ‘fake’ pode comportar. Não é só o ‘fingir ser’ ou ‘mentira’, é na verdade um sistema que produz conteúdo planejado e estratégico com um objetivo específico. Pode ser uma intenção difamatória ou não, o propósito é influenciar. 

As fake news afetam o campo político, recentes denúncias comprovam sua influência nas eleições Americanas de 2016 e no Brexit, processo de saída da do Reino Unido da União Europeia. O protagonista foi a rede social Facebook como canal de disseminação desse conteúdo. No Brasil vivemos período semelhante quanto a disseminação de fake news durante as eleições de 2018. O protagonista foi o Whatsapp, com grande influência também do Facebook e Twitter.

Para Malu Fontes, a fake news é, na verdade, um texto que mimetiza a notícia, ou seja, ela tem o formato estético e linguístico de reconhecimento do gênero notícia. Ainda segundo Malu, o termo não define adequadamente o fenômeno porque não existe uma notícia fake, o que existe é News: um fato bem apurado e esclarecido, ele é diferente do jornalismo mal feito, mal apurado. “Não existe notícia falsa, existe crime”. 

A pesquisadora do INCT DD Tatiana Maria Dourado apresentou seu trabalho que tem foco na circulação das fake news. Com a ideia de multiplataforma, ela já catalogou 347 fake news que circularam no período das eleições de 2018 no Facebook e no Twitter. O resultado da sua coleta conseguiu identificar padrões de como um conteúdo migra de uma rede para outra, entender sua lógica de compartilhamento sob as teorias da comunicação, como as ‘câmaras de eco’ e teoria de ‘opinião pública’. O estudo também analisou a velocidade e a quantidade de pessoas que esses conteúdos alcançam.

Já João Guilherme apresentou sua pesquisa empírica sobre uma fake news específica: “7,2 milhões de votos foram anulados pelas urnas eleitorais, diferença de votos que levaria à vitória o candidato Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno”. Essa matéria viralizou no período de votação. O objetivo do trabalho foi avaliar como esse conteúdo se espalhou no Whatsapp.

O estudo apontou que a disseminação ocorre a nível de compartilhamento exponencial, e a possibilidade de que entendendo essa lógica é possível fazer o caminho inverso e descobrir a primeira fonte que espalhou o conteúdo falso. A importância desse estudo está em modificar a ideia de que o whatsapp é uma rede fechada, ela é potencialmente uma rede viral, além de criar uma possibilidade de investigação para esse crime.

Muitas dúvidas fomentaram o debate em torno da pesquisa apresentada, a principal foi sobre qual a ferramenta utilizada no estudo. Além das ferramentas que às plataformas disponibilizam os pesquisadores compartilharam o site The Digital Methods Initiative (DMI), uma iniciativa de grupos de pesquisa da Europa. Eles pesquisam internet e no seu site compartilham ferramentas e métodos específicos para cada rede social.

A inquietação de todos é sobre como se proteger das fake news, onde conseguir informação bem apurada. Tatiana sinalizou as recentes iniciativas das agências de fact checking. O serviço delas é apurar notícias e declarações virais e esclarecer seus pormenores. Para João Guilherme, é importante uma reeducação, com alfabetização digital para saber usar melhor esses espaços digitais, entendendo suas tensões, além de incentivar pesquisas como a sua, que podem identificar os grupos que disseminam notícias falsas e assim reprimir seus efeitos.

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