Sons da cidade: Projeto da UFBA estimula cidadão a fazer ciência sem sair de casa

Equipe Fonotrópica está coletando sons com a participação de cidadãos comuns

Luana Lisboa*

Já pensou o que aconteceria com o meio ambiente caso parcela da população não estivesse frequentando as ruas? Menos uso dos meios de transportes, menos emissão de gases por habitante e quantidade de ruídos nas ruas, mais espaços para os animais silvestres e urbanos ocuparem. Com prefeituras e governos do estados mantendo a política de isolamento social, essas consequências estão sendo pesquisadas pelos cientistas. Alguns deles formam a Equipe Fonotrópica, projeto de extensão da UFBA.

“Menos carros nas ruas, construções em vias públicas interrompidas, nada de shows e bares com aglomerações, redução no ruído de tráfego aéreo, menos barulho de metrô… opa, se os humanos vão retrair, então a fauna terá um alívio e poderá florescer”. Em cenário de pandemia, esses foram os primeiros pensamento do especializado em ecologia e evolução, o coordenador do projeto, Lucas Forti.

Para testar a ideia de um possível aumento dos sons dos seres vivos nos ambientes urbanos, o Projeto Bioacústica em Tempos de Coronavírus tem como colaborador principal o cidadão comum, que grava os sons da janela de sua casa. A iniciativa surgiu quando o professor Forti percebeu que o momento de isolamento serviria de reflexão para muitas das pessoas em casa e a ciência cidadã, de distração do panorama geral. 

“A ciência precisa ser reconhecida cada vez mais como uma instituição importante para a humanidade e nada pode ser mais forte do que ter a própria sociedade participando dela”.

Com as gravações iniciadas no dia 19 de março e marcadas para durarem até após o isolamento nos locais, foram cadastradas 64 janelas espalhadas em estados como Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia até o dia 17 de abril. Mas, com algumas dessas janelas pouco ativas, esse número é insuficiente para que se consiga um resultado de projeção nacional, como buscam esses pesquisadores.

O professor e também coordenador do projeto, Hilton Japyassú, conta como qualquer um pode colaborar. “Com seus celulares, cada um grava 5 minutos do som da janela ou quintal da sua casa a cada 4 horas, com o celular na mesma posição, voltado para o mesmo ambiente externo, para que possam ser comparadas umas com as outras”. A gravação deve ser feita no formato de arquivo “wave” nos aplicativos “Reporter” ou “RecForge II” e enviada por e-mail para fonotropica@gmail.com. Como resultado, o pesquisador espera constatar que animais utilizem mais o espaço urbano, cantem em momentos que não cantavam e que suas canções sejam mais audíveis.

Esta pesquisa se enquadra no Projeto de Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, voltado para estudos Inter e Transdisciplinares em Ecologia e Evolução (INCT-In Tree). Para mais informações, acesse http://fonotropica.ufba.br/cc.php.

*voluntária da Agenda Arte e Cultura

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