Oficina “Ler e Pensar” debate clássicos da literatura brasileira e estrangeira

A obra escolhida para a 2ª edição do projeto foi “O Estrangeiro” do escritor Albert Camus

* Por Virgínia Andrade

“Para mim, Mersault não é um inútil, mas sim um homem pobre e nu, apaixonado por um sol que não projeta sombra. Longe de ser um insensível, o que o move é uma paixão profunda e tenaz, a paixão do absoluto e a verdade, uma verdade negativa, a verdade de ser e de sentir, mas sem a qual nunca poderá levar a cabo nenhuma conquista sobre si. Assim, não exageramos se dissermos que O Estrangeiro é a história de um homem que, sem nenhuma pretensão heroica, aceita morrer pela verdade”. Esta é a breve descrição de Albert Camus sobre Mersault, protagonista do seu primeiro romance, O Estrangeiro, presente no prólogo da edição norte-americana da obra.

Escrito em 1942, no auge do pós-guerra – fato que influenciará de maneira decisiva o conteúdo da produção de Camus – O Estrangeiro narra as desventuras do anti-herói, Mersault, um personagem comum, julgado pela sociedade por reagir com indiferença à notícia da morte da mãe, condenado à morte por matar gratuitamente um árabe e que subverte o modelo tradicional de herói, negando os traços mais marcantes do que caracterizaria o caráter desse. Clássico da literatura estrangeira, o romance foi o tema de debate da 2ª edição do projeto de extensão “Oficinas Ler e Pensar”, idealizado e produzido pelos estudantes do Pet-Letras e do Pet-Filosofia, ambos programas da UFBA. O evento foi realizado no final da tarde de ontem, no espaço em que funciona a cantina do Departamento de Letras.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

A ideia da atividade é proporcionar encontros de leituras críticas, que visam aprofundar o pensamento – seja ele filosófico ou de outra ordem qualquer – e criar novos horizontes de leitura, a partir da interação dos alunos. Entre os pontos de destaque da discussão, estão dois conceitos trabalhados por Camus no romance: a estética do absurdo e a da indiferença – em que o primeiro refere-se ao enfrentamento “da irracionalidade do mundo com o desejo de racionalidade que se encontra no homem”, e o segundo diz respeito ao sentimento apático, insensível, indiferente do próprio Mersault em relação à sua vida e demais acontecimentos.

Foram colocadas em questão ainda a retomada, através do título, das ideias de “estranho”, “alheio” e “alteridade”, tendo em vista o distanciamento do nome do livro do próprio sentido de territorialidade, a que remete quase que instantaneamente; a noção de “homem absurdo”, referente ao sujeito situado no contexto do pós-guerra, absolutamente sem perspectivas de mudança de vida; e a ideia de herói e anti-herói, com ênfase na análise das diferenças e possíveis semelhanças entre ambos os termos.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

A primeira edição do “Oficinas” aconteceu em agosto deste ano e discutiu “Cem Anos de Solidão” do escritor colombiano Gabriel García Márquez.

O escritor | Primeiro escritor africano a ser premiado com o Nobel de Literatura, em 1957, Albert Camus (1913-1960), além de romancista, ensaísta e jornalista, era filósofo por formação. De origem franco-argelina, Camus não apenas conviveu com o colonialismo francês, como também cresceu em um país massacrado pelo subdesenvolvimento de ordens social e econômica. Considerado símbolo político da esquerda alternativa e antibélica, Albert faleceu em um acidente de carro a caminho de Paris.

Foto: Virgínia Andrade
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