Filmes de Sofia Federico “recuperam a linguagem do silêncio”, diz professor da UnB

O professor de cinema da Universidade de Brasília, Geraldo Moraes, declarou que os três curtas metragens de Sofia Federico, exibidos na noite desta terça-feira, 8 de abril, em mais uma edição do projeto Cinemas em Rede, “recuperam a linguagem do silêncio, tocando e emocionando o espectador”.

Caçadores de Saci (2005), Vermelho Rubro do Céu da Boca (2005) e Cega Seca (2003). As produções, que valorizam aspectos da cultura brasileira, foram exibidas em também outras três salas de cinema – na USP (Universidade de São Paulo), na Fundação Joaquim Nabuco (Recife) e na Cinemateca Brasileira (São Paulo) –, consolidando assim o ideal do projeto Cinemas em rede: exibições simultâneas em múltiplas salas de cinema do país.

Depois da exibição dos filmes, Sofia Federico participou de um bate-papo com a responsável pela vinda do projeto Cinemas em Rede à UFBA, Elisabete Barbosa, e a produtora dos filmes de Sofia, Solange Lima. Durante a conversa, que teve a participação do público, foram discutidas a participação do governo no incentivo às produções culturais, o trabalho de Sofia Federico e seu processo de produção.

O primeiro filme exibido durante a mostra foi Caçadores de Saci, um curta metragem voltado ao público infanto-juvenil, originalmente feito para ser exibido na televisão. Com 13 minutos de duração, o filme mostra a chácara da família Onofre, que vem enfrentando uma série de problemas curiosos: objetos que desaparecem, sal no café, o feijão que sempre queima. Tais situações apontam para um único culpado: uma invasão de sacis. É então que a família Onofre contata o melhor caçador de saci do sertão, Valdevino. O curta segue então mostrando a trajetória da família durante a caçada aos sacis, resgatando um pouco do folclore nacional. A narrativa fluida de Sofia, bem como a temática interessante e instigante, faz com que o espectador se mantenha atento aos detalhes da história.

Em sequência, foi exibido o curta Vermelho Rubro do Céu da Boca, que tem escrito e dirigido pela cineasta Baiana Sofia Federico, tem como lugar de enredo a pequena cidade de Lençóis- Chapada Diamantina. O filme expõe – com um olhar sensível – os medos, aflições e crenças que o ser humano possui. A diretora explora das sensações: tato, auditivas e visuais. Os sentidos e sentimentos parecem ultrapassar a tela e cativar cada espectador. Os personagens, por sua vez, são interpretados de forma sutil. São dois protagonistas que começam a história em pontos opostos e vidas distintas que se entrelaçam ao fim da trama. Um aspecto interessante da trama é a relação com a natureza local. Ela é quase um personagem. A água, o rio, a cachoeiras, as pedras compõem o quadro que envolvem os personagens e interagem diretamente com eles. O enredo se passa no interior e a narrativa acompanha a calma e simplicidade local. O realismo fantástico cria uma espera de sonhos e esperanças. Dessa forma, o espectador sai do cinema com outra perspectiva sobre a vida.

A sessão foi encerrada com a exibição de Cega Seca, o primeiro trabalho da cineasta. O filme traz uma narrativa que prende e surpreende o leitor do início ao fim. O curta conta a relação de um menino que mora no sertão nordestino com o pai e com os pássaros que este vende. A narrativa é delicada e desenvolvida de modo com que o espectador sinta-se inserido na historia. Os fatos são contatos de modo que envolve o espectador emocionalmente e relembra sentimentos da relação pai e filho. As crenças, os posicionamentos éticos são discutidos de forma leve e densa, ao mesmo tempo, em um cenário de vida difícil que é exposta pela natureza do local. Ao fim do curta é possível refletir sobre o que o ser humano prioriza e o que é realmente relevante.

Sofia Federico, que atualmente vem desenvolvendo a segunda temporada da série Jazz na Madrugada, na TVE Bahia, falou sobre as dificuldades de produzir curta metragens, bem como sua importância no cenário audiovisual. “A iniciativa do Cinemas em Rede merece ser parabenizada. Isso é muito importante para o cinema alternativo”, disse Sofia.

Comentou-se ainda a dificuldade desse tipo de produção cinematográfica se manter no circuito comercial, visto que não é o que a maioria do público costuma consumir. Segundo a organizador do Cinemas em Rede em rede na UFBA, “um dos objetivos desse projeto é fazer conhecer justamente esse trabalho”, disse Elisabete Barbosa.

Solange Lima, a produtora dos filmes de Sofia, também teceu críticas ao modo como o governo brasileiro vem tratando suas produções audiovisuais. A falta de incentivo e a dificuldade encontrada pelos profissionais para a execução e circulação dos filmes foi o principal objeto de crítica da produtora. “Sofia é uma poesia. Como é que o governo não enxerga isso? É como se fosse uma perversidade com quem faz cinema”, disse Solange.

O público, ainda que pequeno(apenas cerca de 20 pessoas compareceram ao evento), elogiou o trabalho da cineasta após a exibição dos curtas. Sofia Federico é formada em jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UFBA e, em 2006, deixou de exercer a profissão para se dedicar exclusivamente às produções audiovisuais.

 

 

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