‘O mal está instalado na política brasileira’, afirma historiador

O professor Carlos Zacarias defende que nós “devemos acreditar no que Bolsonaro diz”

Por Gabriel Moura

“Nós devemos acreditar no que Bolsonaro diz. Isso significa que o mal está instalado na política brasileira. E quando ele se instala, é difícil de ser retirado. Por isso devemos ter cautela, mas ao mesmo tempo coragem para enfrenta-lo”, defendeu o historiador e professor Carlos Zacarias durante o debate “Democracia e Fascismo”.

O evento aconteceu na tarde desta sexta (9) no Auditório do CRH em São Lázaro e contou com casa cheia. Além de Zacarias, também estiveram presentes os professores Luiz Filgueiras (Economia) e Paulo Fábio (Ciência Política).

O historiador defende que Bolsonaro é fascista, mas que representa um fascismo diferente do que existiu na Itália e na Alemanha no século XX. “Os movimentos liderados por Hitler e Mussolini tinham grande engajamento e força popular. No entanto, nas ditaduras da América Latina, nas quais Bolsonaro se inclui, não houve este apelo do povo, pois a elite desses países tem aversão às massas e não querem governar com elas”, defende.

Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil com 55,13% dos votos. Mas além do Brasil, a chamada “extrema-direita” está ganhando força no mundo. O mais famoso exemplo é os Estados Unidos, que tem como presidente Donald Trump. Mas além dele, os partidos conservadores têm conseguido grande espaço em países como a Grécia, Itália, Polônia e até a Alemanha, que elegeu candidatos de extrema-direita para o parlamento, fato que não acontecia desde a queda do Nazismo.

evento_sao_lazaro_gabriel

“A hegemonia do capitalismo financeiro internacional é uma das causas do neofascismo mundial. Ele produziu um processo de desigualdade de renda e precarização do trabalho. Houve uma piora na condição de vida. Essa situação alimenta o neofascismo, como o fascismo das décadas de 20 e 30 se alimentaram da Crise de 29”, defendeu o professor Luís Filgueiras sobre um dos motivos do avanço dos governos de extrema-direita.

“O fascismo se alimenta das crises do capitalismo e da democracia. Se o capital não oferece resposta, perde legitimidade e o estado de direito. A última trincheira do capitalismo é o fascismo”, defendeu Filgueiras.

Para o economista, as principais ideologias do “neofascismo brasileiro” são um neoliberalismo antiprotecionista e contrário a tudo que é público, o fundamentalismo religioso baseado na teoria da prosperidade, a negação dos direitos humanos, o tradicionalismo e o moralismo. Mas, principalmente, o um antipetismo visceral.

“Uma das principais características do fascismo é que ele sempre culpa o outro. No caso dos Estados Unidos são os imigrantes e os chineses. Na Europa são os refugiados. Já no Brasil a culpa de tudo que há errado do país é o PT”, afirmou.

Para o professor, uma das principais bandeiras levantadas por Bolsonaro, a do nacionalismo, é uma falácia.

“O nacionalismo de Bolsonaro acaba na bandeira, no hino e na camisa da CBF e da Nike (seleção brasileira). O nosso presidente não é Trump pois o americano é nacionalista e protecionista. Jair é entreguista. Ele não tem nenhum projeto nacional que priorize o Brasil”, afirmou.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *