A Escola de Belas Artes e a Bienal da Bahia

Num dia comum de dezembro, a Agenda Arte e Cultura da UFBA teve como guia o estudante de Desenho e Plástica Arthur Scovino, indicado pelos próprios estudantes como fonte de conhecimento, para falar sobre o que aconteceu em 2013 e o que acontecerá nas artes em 2014.

Como grande fonte de pautas de arte e cultura que é, a Escola de Belas Artes (EBA/UFBA) traz muitas surpresas. Em um dia de reportagem, a equipe da Agenda Arte e Cultura foi apresentada a um certo “barbudo”, indicado por alunos da EBA como fonte de informações sobre acontecimentos na Escola: Arthur Scovino, 33, estudante de Licenciatura em Desenho e Plástica. E o que seria apenas uma entrevista em tom informal virou uma retrospectiva genérica do ano de 2013 na EBA e uma análise das perspectivas previstas para o cenário soteropolitano das artes plásticas em 2014.

Retrospectiva e perspectivas Scovino participou durante os meses de abril e maio da primeira exposição A Sala do Diretor, projeto do MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia) atualmente em sua terceira edição. Para o estudante, a oportunidade foi “interessante porque foi uma instalação de objetos pessoais e documentos de percurso do Caboclo dos Aflitos [obra apresentada por ele que traz pensamentos sobre o Caboclo do 2 de Julho]. Foi a primeira mostra oficialmente, que gerou depois outras produções, como vídeos”.

O “Piscinão Misera”, que acontece desde 2010 sempre em maio, teve sua quarta edição este ano. De acordo com Arthur Scovino, que organiza a proposta, “a piscina é uma desculpa para um espaço em que acontecem outras performances, é pretexto para outras apresentações. O ambiente é institucional [o campus da EBA], mas qualquer artista pode participar”. O Piscinão também integra a Mostra de Performance, única mostra oficialmente de performance da Bahia compondo o calendário oficial de artes. Ela engloba várias expressões artísticas e para Scovino representa “liberdade e diálogo com outras artes”.

Arthur ressalta ainda que acontece em 2014 a terceira Bienal de Arte da Bahia. A primeira edição aconteceu em 1966 e a segunda em 1968, mas “a última abriu em um dia, e no segundo dia a ditadura fechou. Depois disso a organização desistiu de realizar outras edições”, apontou o jovem artista que lembrou que “[A Bienal] acontecerá ao mesmo tempo em que a Copa. Mera coincidência?”.

Foto: Gustavo Salgado
Foto: Gustavo Salgado

 Bienal – perspectivas Para Augusto Gonçalves e Etiennette Bosetto, membros da mediação cultural da exposição A Sala do Diretor, o jornalista Marcelo Rezende trouxe em sua gestão da diretoria do MAM novas ideias ao interrelacionar o movimento de reforma do museu e a sala do diretor em um espaço de exposição, que se transformou no projeto A Sala do Diretor.

A primeira edição aconteceu literalmente na sala do diretor. A segunda foi iniciada no mesmo lugar e depois transferida para o casarão que abriga o salão principal de exposições do MAM. A terceira mostra já começou no casarão. “Aproximar a visitação do público ao espaço do museu através de uma vivência direta entre museu, público e administração, e tirar a mítica do espaço sagrado”, segundo Gonçalves, foram as intenções de Rezende (que mediou pessoalmente a segunda A Sala do Diretor).

O corpo técnico-administrativo presente na mostra não é simbólico, é real, as pessoas realmente estão trabalhando no local. “A reforma me deu um álibi de promover uma experiência”, relata Marcelo Rezende cuja proposta é de “aproximar o público com o museu; aproximar a relação museu, artistas, público”.

Alejandra Muñoz, professora da EBA, caracterizou É Tropical, Inclusive – terceira exposição de A Sala do Diretor – como “um aperitivo, um tira-gosto” do que virá a ser a Bienal de Arte. Rezende lembrou que o Estado da Bahia retomou institucionalmente por decreto a Bienal em 2009, e o MAM conduziu esse retorno.

Ayrson Heráclito, curador da Bienal, considera que a mostra conta com uma boa representação brasileira e internacional, “artistas que detêm uma poética e importância em questões diversas”. Não é uma Bienal de grandes nomes, mas de grande qualidade dos artistas, defende Heráclito, em que 70%, 80% deles estão fora da mídia.

É, Tropical, Inclusive é avaliada pelo curador como um “quadro heterogêneo que em verdade quer explorar o conceito do regional”, em que o questionamento “Tudo é Nordeste?” orienta a reflexão sobre a temática da exposição. “Nordeste irrestrito, além das fronteiras geográficas, históricas, políticas… Nordeste imagético, um nordeste no mundo. Pensando norte-nordeste, no nordeste de Minas Gerais, no nordeste West dos Estados Unidos, Soweto africano. Nordeste enquanto uma experiência humana. O conceito da Bienal expande todos esses conceitos tradicionais de lugar”, conclui Heráclito “a fim de pensar a arte contemporânea a partir desse nordeste irrestrito”.

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