Enecult põe em perspectiva a relação entre políticas culturais, arte e financiamento

Ascom Enecult
Ascom Enecult

por Adriana Santana

 

Em seu segundo dia (09/08), o VIII Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult) contou com uma nova sessão de trabalho do eixo Cultura e Políticas Culturais. Na ocasião, cinco pesquisadores debateram a relação entre as políticas e as artes, assim como a interação entre cultura e estado, tema da mesa de abertura do evento.

As duas primeiras apresentações se detiveram na interface cultura e arte. Giordanna Santos, doutoranda pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós Cultura) da UFBA, abordou a falta de diálogo entre as políticas para as artes no Brasil, destinando a análise aos âmbitos do circo, do museu e da cultura popular, incluídas na grande área do patrimônio. Segundo a pesquisadora, os colegiados setoriais do Ministério da Cultura (MinC) não trabalham de forma transversal. “No Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) era para haver um diálogo maior, mas as pesquisas apontam que ele está falhando não apenas na relação entre governo e sociedade civil, mas também entre os setores”, pontuou.

Gisele Nussbaumer, professora do Pós Cultura, apresentou as transformações históricas adquiridas pelos termos cultura e arte, distinções e tensões entre eles e suas influências na execução de políticas. A professora chama atenção ainda para a inexistência de pesquisas sobre as políticas para as artes. “Não se discute mais o que é arte, discute-se apenas o planejamento de políticas, descentralização, orçamento etc.”, afirma.

O mestrando em Administração pela UFBA, Francisco Raniere, caracteriza as políticas culturais como um campo de práticas e conhecimento, afirmando ser necessário pensar nos seus aspectos metodológicos. “A transdisciplinaridade dos estudos do campo exige a formação de práticas metodológicas plurais, não rígidas, mas que já tenham respaldo”, indica. Alberto Freire, doutor pelo Pós Cultura, trouxe para o debate a questão do financiamento ao setor cultural, apresentando as transformações históricas em suas modalidades, do mecenato ao marketing cultural, e os diferentes aspectos do setor público e privado no que se refere ao investimento. Por fim, Sebastião Soares, doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP, apresenta a ausculta social como uma metodologia possível de apreensão dos modos de vida de uma sociedade e a rua como âmbito das práticas culturais. “O reconhecimento da cidade passa pelo reconhecimento do outro”, aponta.

A falta de continuidade das ações do Ministério da Cultura (MinC) foi lembrada em diversas ocasiões pelos estudiosos. Para os presentes, a gestão atual da ministra Ana de Hollanda não corresponde ao implementado pelo órgão nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira. “Há quase um consenso no meio cultural que o MinC pouco avançou nos últimos anos”, explica Nussbaumer.

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