Escola de Belas Artes presta homenagem a Cañizares com exposição

Centenário de morte do fundador da EBA é celebrado até novembro na Galeria.

 *Por Virgínia Andrade

Muitas eram as lacunas a serem preenchidas em relação à vida e atuação profissional do ilustre pintor espanhol Miguel Navarro y Cañizares, fundador-idealizador da Academia de Belas Artes da Bahia, atual Escola de Belas Artes da UFBA. Foi com o intuito de preencher alguns desses espaços e sanar dúvidas que ainda persistiam no imaginário dos que estudam a história das artes plásticas que Viviane Rummler, mestra em Artes Visuais pelo Programa de Pós Graduação da EBA, optou por dedicar-se ao minucioso trabalho de pesquisa, que fundamenta a exposição “Miguel Navarro y Cañizares e a fundação da Academia Baiana de Belas Artes da Bahia”, inaugurada na última segunda-feira, 14, às 19h, na Galeria Cañizares.

Intitulada “Pintores fundadores da Academia de Belas Artes da Bahia: João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893) e Miguel Navarro y Cañizares (1834-1913)”, a dissertação de mestrado, orientada pelo professor de História da Arte da EBA/UFBA Luiz Alberto Ribeiro Freire, só foi possível com o apoio do tataraneto de Cañizares, Fernando de Castro Lopes, que contribuiu com a doação de importantes documentos do acervo particular do artista. Entre eles estavam cartas, cartões e notas pessoais. Curadora da exposição, Viviane defendeu que o projeto “representa o resgate da memória da Escola de Belas Artes, que há muitos anos apresentava lacunas, esclarecidas com o trabalho de mestrado”, e segreda: “pessoalmente é uma realização”.

A Exposição é composta por obras de Cañizares e de alunos seus, e estruturada em três fases cronológicas da trajetória artístico-profissional e biográfica: a primeira, referente à sua formação acadêmica na Real Academia de San Carlos de Valência e parte da sua atuação profissional na Europa e nas Américas do Norte e Sul; a segunda, relacionada à sua chegada no Brasil até a fundação da Academia de Belas Artes da Bahia; e o terceiro momento, referente à sua produção artística no Rio de Janeiro, onde viveu e trabalhou por mais de 30 anos. A mostra é uma realização da EBA em parceria com a Tecnomuseu Consultoria Ltda, com apoio  das Pró-Reitorias de Extensão (PROEXT) e de Planejamento (PROPLAN).

Viviane Rummler, mestra em Artes Visuais e curadora da exposição. Foto: Vanice da Mata
Viviane Rummler, mestra em Artes Visuais e curadora da exposição.
Foto: Vanice da Mata

“Este evento representa a rememoração da fundação de Belas Artes por um pintor espanhol que, a caminho do Rio de Janeiro, passou por Salvador, mas como o Rio estava com uma peste, ele não quis levar os filhos para lá, permanecendo na Bahia por dois anos”, esclarece Nanci Novais, diretora da Escola de Belas Artes, que não deixou de enfatizar a importância do pintor para a EBA.  “A importância de Cañizares para nós é a de fundar a EBA com o perfil da escola europeia, francesa, numa cidade que ainda era muito pequena, Salvador, e impregnar nas pessoas a consciência da arte clássica e acadêmica. Isso deu força para a Escola continuar existindo, apesar de todas as dificuldades”. E finalizou: “é um amor que a gente sente e não consegue explicar”.

Em concordância com Nanci, Romário Oliveira, aluno do 5° semestre de Design de Interiores da EBA/UFBA, enfatizou a relevância social do projeto. “É importante preservar essa questão da consciência de voltar um pouco no tempo, e ressaltar a importância do que foi o pintor Cañizares, visto que a galeria recebe o nome dele e sabendo que é seu centenário de morte”, opina. O estudante aproveitou para recomendar a exposição:  “É gratificante, principalmente por estarmos nos formando, receber dentro do nosso período de graduação uma exposição desse porte na nossa casa. Vale muito a pena conferir e valorizar o que está sendo exposto”, declara.

Romário Oliveira, estudante da Escola de Belas Artes. Foto: Vanice da Mata
Romário Oliveira, estudante da Escola de Belas Artes.
Foto: Vanice da Mata

Temporária, a exposição permanece em cartaz até o dia 24 de outubro na Galeria Cañizares, Canela, e de lá, as obras voltarão para o acervo. “Estamos pensando em fazer um memorial da Escola no casarão que está sendo reformado e provavelmente alguma parte desse material deve seguir para este espaço em forma de exposição permanente”, diz Viviane. Em dezembro, a Cañizares volta com outra mostra em comemoração ao aniversário da EBA, com trabalhos de outros artistas que marcaram a história da instituição.

Nanci agradeceu ao público que conferiu a abertura, especialmente à Reitora Dora Leal Rosa e à Pró-Reitora de Extensão Blandina Viana, presentes na inauguração. “Essa exposição é uma paralaxe. Nós vamos mudando de posição e descobrindo novidades”, parabenizou a Reitora, declarando-se, em nome da Universidade, honrada com o projeto desenvolvido.

O artista | Natural de Valência, na Espanha, Miguel Cañizares chegou ao Brasil em 1876. Convidado pelo Liceu de Artes e Ofícios da Bahia para ser professor, Cañizares, após desentendimentos internos, saiu da instituição. Os alunos, por gostarem dele, o acompanharam. O artista passou a lecionar em sua própria casa, que depois veio a abrigar a Escola de Belas Artes, que existe há 136 anos. Segunda das duas academias de Belas Artes criadas no Brasil no século XIX, a Academia de Belas Artes da Bahia representou um marco na história das Artes Plásticas no Brasil. Radicado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, Cañizares faleceu em 1913, aos 79 anos de idade.

Foto: Vanice da Mata
Foto: Vanice da Mata

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