Estudo avalia profissionais de comunicação oriundos de cotas

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Por Marília Moura*

O Grupo de Estudos em Mídia e Etnicidades (Etnomídia) da Faculdade de Comunicação da Ufba (Facom), está desenvolvendo a pesquisa Faces do Brasil, que monitora, clipa e analisa a cobertura de 23 veículos impressos, entre eles 17 jornais diários e 6 revistas semanais acerca de temas ligados a indígenas, ciganos e negros.

 

Com o objetivo de colaborar para o fortalecimento da democracia e incentivar a diversidade na produção de notícias, nove bolsistas e três assistentes técnicos formam a equipe que realiza a pesquisa, sob a coordenação do professor doutor em Ciências da Comunicação pela USP, Fernando Conceição. A pesquisa conta ainda com a parceria da ONG Omi-Dùdú e o Afirme-se – Centro de Práticas e de Estudos de Diversidades Culturais.

 

Extensão – A repercussão da pesquisa Faces do Brasil colaborou para que a Ford Foundation – organização privada, sem fins lucrativos, com sede nos Estados Unidos, que apoia, no Brasil, iniciativas relacionadas aos direitos humanos, desenvolvimento sustentável e liberdade de expressão – demonstrasse interesse em continuar financiando o trabalho do Etnomídia.

Diante da proposta da organização em dar continuidade ao monitoramento e de financiar outra iniciativa do grupo. O professor Fernando Conceição resgatou a ideia da pesquisa do mercado de mídia, que havia sido apresentada ao CNPq em 2008, com o intuito de obter bolsa de produtividade em pesquisa, mas que acabou sendo indeferida. Desta vez, a Ford Foundation investiu 150 mil dólares para financiar a continuidade da pesquisa Faces do Brasil e uma extensão da mesma, intitulada “Mercado de Mídia e Políticas de Cotas para Afrodescendentes e Indígenas”. O valor investido foi superior ao financiamento da primeira parte do trabalho de pesquisa, que recebeu 120 mil dólares para realizar o monitoramento de jornais e revistas da Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima, entre outros estados.

 

Atuação – Durante 18 meses, dois bolsistas do grupo Etnomídia estarão envolvidos com o trabalho de pesquisa em jornais, emissoras de televisão e agências de publicidade de sete capitais brasileiras: Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Distrito Federal e Manaus, para conhecer a situação dos profissionais oriundos de cotas, nas empresas de comunicação. Segundo Fernando Conceição, o novo trabalho do Etnomídia pretende observar como o mercado de mídia tem se posicionado em relação aos avanços das políticas afirmativas.

Os bolsistas do grupo vão mapear empresas de comunicação das sete capitais selecionadas pela pesquisa, aplicar questionários nesses veículos e realizar entrevistas com profissionais que estão no mercado. A partir do levantamento de informações sobre valores de remuneração e cargos ocupados por profissionais egressos de cotas, a pesquisa pretende realizar uma análise comparativa de grupos de profissionais cotistas e não cotistas no campo da comunicação.

Experiências – Embora a pesquisa esteja no início, a Agência de Notícias Ciência e Cultura buscou relatos de graduados em Comunicação Social pela Faculdade de Comunicação da Ufba a fim de conhecer o percurso desses profissionais, que entraram na universidade pelo sistema de cotas, e saber como aconteceu a entrada deles no mercado de trabalho.

 

Um dos profissionais entrevistados foi Tarcízio Silva, formado em Comunicação Social com habilitação em Produção Cultural. Ele sempre estudou em escola pública e ingressou na universidade pelo sistema de cotas em 2005, no primeiro vestibular da Ufba com reserva de vagas para estudantes egressos das escolas públicas. “Quando cursei o ensino médio, só tive aulas de Biologia e Matemática, por exemplo, nos últimos meses do ano. Isto foi um grande empecilho ao prestar o vestibular, pois mesmo sempre tendo sido estudioso a discrepância com o ensino de escolas particulares era enorme”, diz Silva.

 

Após ter prestado vestibular para Produção Cultural e não ter sido aprovado na primeira tentativa, ele fez o cursinho pré-vestibular oferecido pelo Estado. No ano seguinte, tentou novamente e passou em 34º lugar. Com essa colocação, ele seria aprovado para o segundo semestre, mas o sistema de cotas da Ufba permitiu que seu ingresso fosse logo no primeiro.

 

De acordo com Silva, isso foi algo decisivo em sua formação, uma vez que no semestre seguinte, ele pôde participar da seleção para o Programa de Educação Tutorial (PET) que, na época, só permitia o ingresso de alunos de segundo e terceiro semestre. A bolsa recebida no Programa e as atividades extras proporcionaram a Tarcízio um aprendizado de teoria e prática que foi além da habilitação específica em Produção Cultural.

 

Com a experiência de pesquisa desenvolvida durante sua participação no PET ele conseguiu uma vaga em outra instância da Facom, o Observatório de Publicidade em Tecnologias Digitais. A partir desse momento, sua formação foi se voltando para a comunicação digital.

 

O conhecimento desenvolvido no Observatório colaborou para que ele conseguisse estágios em agências de propaganda. Depois dessas experiências, ainda durante a graduação, Tarcízio decidiu empreender e criar uma agência de comunicação e estratégia digital junto com três sócios, a Paper CliQ. Após dois anos de atuação, Tarcízio está concluindo o mestrado no PósCom Ufba. “Já dou aulas em cursos de extensão e darei aulas em algumas especializações em breve. Ou seja, a Ufba me permitiu oportunidades que eu não vislumbrava sete anos atrás”, comemora.

 

Além da participação em atividades extras durante a graduação, Tarcízio destaca a importância de “compartilhar conhecimento de todos os jeitos possíveis. “Durante meu ensino básico senti muita falta disso: ter acesso a conhecimento e experiência de outras pessoas”.

 

Ele também aconselha aos graduandos participar de eventos com o intuito de “conhecer pessoas, lugares, práticas e teorias” e a focar numa área de interesse, depois de ter contato com diferentes áreas da comunicação, conciliando teoria e prática e alinhando estágios e o Trabalho de Conclusão de Curso com as aspirações profissionais.

 

Outro profissional formado na Facom-Ufba é Cadu Oliveira, que relatou sua experiência no curso de Jornalismo. Cadu também ingressou na universidade através do sistema de cotas, em 2005 e segundo ele, o fato de ter cursado toda a sua vida escolar no ensino público não causou prejuízos para o seu rendimento na graduação. “As dificuldades de ordem econômica, sim, em alguns aspectos, como a aquisição de material bibliográfico, por exemplo”, relembra.

 

Assim como Tarcízio Silva, Cadu afirma que a participação em monitorias e em atividades de extensão foi essencial para a sua formação. Ele ainda destaca que as atividades práticas paralelas à formação curricular possibilitaram que ele desenvolvesse habilidades que foram úteis quanto ao ingresso no mercado de trabalho. “A experiência como monitor voluntário e bolsista na Revista Lupa, revista-laboratório da Facom, me preparou para encarar o meu primeiro emprego após a conclusão do curso, à frente da coordenação da Agenda Cultural Bahia ” destaca.

 

Resultados – Embora a pesquisa de Mercado de Mídia e Políticas de Cotas para Afrodescendentes e Indígenas esteja em fase de desenvolvimento e não exista ainda um diagnóstico da situação de profissionais de comunicação egressos do sistema de cotas, percebe-se que a participação em atividades extracurriculares, como grupos de pesquisa, atividades de extensão e participação em instâncias da faculdade podem ser fatores que colaboram para iniciar a atuação profissional após a conclusão do curso.

 

Os resultados da pesquisa serão divulgados em 2013, quando o Etnomídia apresentará um relatório com a análise dos dados pesquisados. Sobre a possibilidade de realizar um seminário para apresentar o resultado da pesquisa, como foi feito na pesquisa de monitoramento, clipagem e análise da cobertura dos jornais, o professor Fernando Conceição declarou que ainda não pôde afirmar se irá acontecer, por enquanto o único produto previsto para a pesquisa do mercado de mídia é o relatório final.

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*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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