Mesa discute produções audiovisuais do Brasil e da África

Cinema africano e cinema negro: produção, circulação e políticas é tema de discussão na VII Semana da África.

*Por Carol Oliveira

Propondo um debate que aumente o diálogo entre Brasil e África, a VII Semana da África formulou uma mesa que discutisse Cinema africano e cinema negro: produção, circulação e políticas e, para enriquecer o debate, convidou como palestrantes o cineasta  Antônio Olavo, o cineasta e pesquisador Joelzito Araújo e o também cineasta e atual diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB) Pola Ribeiro, tendo como debatedor Carlos Cardoso, do Council for the Development of Social Science Research in África / Guiné-Bissau (Conselho para o Desenvolvimento de Pesquisa em Ciências Sociais na África / Guiné-Bissau). A mesa aconteceu na tarde do dia 23 de maio no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O cineasta brasileiro Antônio Olavo, antes de iniciar sua fala acerca do tema proposto, prestou sua indignação frente à suspensão dos editais de incentivo à produção cultural negra do Ministério da Cultura (MinC), considerando a medida uma atitude discriminatória das elites brancas, direta ou indiretamente e que acaba por comprometer projetos que refletem a diversidade brasileira. Voltando ao tema, o cineasta compartilha um pouco da sua trajetória e fatos importantes que aconteceram na sua infância, que o levaram a buscar construir uma valorização social do povo negro em suas obras fílmicas. O cineasta afirma que na sua infância não tinha conhecimento da história real do seu povo – o povo negro -, e por entender a importância de se contar essa história é que amadureceu a convicção de que “conhecer o seu passado histórico, conhecer a sua ancestralidade, particularmente a sua ancestralidade africana é fundamental para reafirmar o seu estado de força”. Contribuir para mostrar a história de homens e mulheres que lutaram por igualdade é uma das contribuições que o cineasta deseja dar para a história da cultura negra e tenta fazer isso através dos seus filmes.

“A maioria das pessoas que conhecem o cinema africano não tem ideia da diversidade que ele tem”, afirma o cineasta e também pesquisador Joelzito Araújo. O cinema no continente Africano se divide em diversas tendências, com produções que se assemelham ao cinema europeu, por exemplo, as produções do Senegal, ou um estilo mais dramático e com uma narrativa mais comercial como é o cinema sul-africano, ou ainda o cinema de língua portuguesa produzidos em países como Moçambique e Angola, com produções que contam com a participação de atores brasileiros, como Lázaro Ramos e Antônio Pitanga, entre outros estilos de produções.

Joelzito Araújo relata que não vê historicamente grandes esforços do Brasil, por parte de suas políticas governamentais, em aproximar sua relação com a África e em reconhecer a dívida histórica que têm com este continente. O que se vê, segundo ele, são apenas algumas manifestações que não são suficientes. Um exemplo disso é que a Agência Nacional de Cinema (Ancine), que em seus critérios de apoio a produções cinematográficas excluem pequenos festivais de cinema. “Em cerca de 50 festivais pelo mundo, tem praticamente todos os continentes, com exceção da África. A Ancine não tem em sua lista nenhum dos festivais africanos”, defende o cineasta.

Com “Jardim das Folhas Sagradas” o cineasta Pola Ribeiro busca transmitir a lição de convívio e preservação da natureza que o candomblé, uma religião ancestral trazida pelos escravos africanos, tem a oferecer.  Durante a discussão, Pola divide com o público como funcionou o processo de produção de sua obra fílmica que retrata um pouco da cultura negra baiana. Discorrendo sobre a circulação de obras audiovisuais negras, Pola Ribeiro fala sobre o projeto DOCTV, considerado um dos principais instrumentos de gestão pública do audiovisual brasileiro e que se mostra como uma importante ferramenta com potencial da parceria entre a produção independente, as TVs públicas, a iniciativas do setor público e privado no Brasil. “O DOCTV é um instrumento extremamente preciso”, coloca o atual diretor do IRDEB se referindo ao projeto. Dentre os objetivos do projeto está o fomento à regionalização da produção de documentários, incentivo à parceria da produção independente com as TVs públicas, valorização e difusão das manifestações culturais regionais, além de implantação de um circuito nacional de teledifusão de documentários através da Rede Pública de Televisão. De acordo com Pola, o DOCTV é uma forma de produzir que busca bastante autonomia, ou seja, é um projeto da produção independente com a TV pública.

Em sua sétima edição, a Semana da África se dispõe a colocar temas relacionados às produções audiovisuais africanas em foco, sobretudo o cinema, bem como as diversas apropriações das imagens das realidades africanas na diáspora, principalmente no Brasil, por considerar a importância da produção audiovisual africana e sobre o continente africano no ensino da história, das culturas africanas e afro-brasileiras nas escolas e universidades no Brasil. O evento, que vem sendo realizado desde o ano 2006, é uma realização da parceria entre estudantes africanos que residem em Salvador e estudantes afro-brasileiros.

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