Historiografia brasileira é tema de conferência na Reitoria da Ufba

Professor doutor da Unicamp, Antônio Novais falou sobre as relações contraditórias entre Brasil e Portugal na época da independência. 

*Por Virgínia Andrade 

Com a intenção de analisar as condições que legitimaram a independência do Brasil, o professor doutor da Unicamp Fernando Antônio Novais escreveu, no final da década de 70, em meio à crise dos paradigmas, o livro Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). Sob viés brasilianista, o historiador procurou entender o processo de independência do país como uma forma de superação da crise do sistema colonial europeu na América.

Foi essa a temática da conferência “Independência na crise do sistema colonial” realizada na última quarta-feira 31 de julho, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA. Com mediação do professor e diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA João Carlos Salles, o evento foi parte da programação do Seminário Internacional Independências nas Américas.

Partindo do questionamento sobre como a colônia se transforma em metrópole, Antônio Novais revisitou discussões presentes no livro – que foi sua tese de doutorado -, costurando nelas alguns dos debates atuais. Segundo o historiador, o maior problema da historiografia do Brasil, que começa em Pero Vaz de Caminha e se estende até o 2 de julho, é o fato de que a história contada é sempre a de Portugal permeada apenas por breve histórico do Brasil, o que reverbera na própria concepção identitária do brasileiro. “Somos um povo de Macunaímas”, alfineta, bem humorado.

Na opinião do professor, a crise – provocada pela tentativa de restabelecimento, por parte das elites portuguesas, do pacto colonial – é uma resposta das elites brasileiras à imposição de Portugal de que o Brasil voltasse à condição de colônia. Para ele, a colonização da metrópole – alicerçada no tripé submissão da colônia, exclusividade do comércio e compulsão do trabalho – criou entre Brasil e Portugal uma situação específica e contraditória. “A vinda da corte para o Brasil cria a ilusão de que a metrópole entrou na colônia e não a colônia saiu da metrópole”. E continua: “a relação cria tensões do centro com a periferia, gerando conflitos de classe complexos”.

Os professores Antônio Novais, da Unicamp (esquerda) e João Carlos Salles, da UFBA.  Foto: Virgínia Andrade
Os professores Antônio Novais, da Unicamp (esquerda) e João Carlos Salles, da UFBA.
Foto: Virgínia Andrade

Embora considere que toda reconstituição histórica tem um pouco de anacronismo, Novais deixa claro que a memória é um fato social e que a caracterização da história do “novo mundo” é delineada por duas questões principais: a abertura de novos tempos e a desconceitualização – possível a partir da crise paradigmática dos anos 70.

Antônio Novais é graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde lecionou de 1961 a 1985. Publicou, em 1996, o livro A independência política do Brasil, referência para a historiografia nacional. Organizou a coleção  História da vida privada no Brasil (1997), que reuniu trabalhos de importantes historiadores brasileiros.

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