Mulher e cultura em debate

Por Natácia Guimarães

A tarde desta terça feira, 29 de outubro, foi de reflexão sobre a trajetória e os avanços da mulher brasileira na cultura, no Fórum Nacional Mulher e Cultura, na Biblioteca Pública dos Barris. A mesa de discussões intitulada “Mulher e Cultura” contou com a presença de cinco mulheres com alto engajamento social e político: Salete Maria, Ana Maria Gonçalves, Maria Kambeba, Sonia Terra e a mediadora Anarin Santana.  O debate conseguiu lotar a sala de cinema Walter da Silveira.

A sessão foi iniciada com a fala de Priscila Barros – coordenadora do Plano Nacional de Cultura – que explicou um pouco sobre a Lei 12.343 ( que instituiu o plano nacional) e contextualizou os ouvintes. Priscila lembrou que o Fórum está ocorrendo devido a estratégia 2.1, que baseia-se em “Reavaliar programas de reconhecimento, preservação, fomento e difusão do patrimônio e da expressão cultural dos e para os grupos que compõem a sociedade brasileira, especialmente aqueles sujeitos à discriminação  e à marginalização:  indígenas, afro-brasileiros, quilombolas, comunidades tradicionais e moradores de zonas rurais e áreas urbanas periféricas e degradadas(…)”.  Logo depois, foi dado início a mesa. A mediadora, Arany Santana, pediu licença aos orixás para realizar o evento.

Cada convidada da mesa expôs suas trajetórias de luta em diferentes regiões do país, explicaram como que alcançaram visibilidade e notoriedade nacional e internacional por suas produções.  “Você que está chegando, bem vindo, seja bem vindo… Só estava faltando você chegar nesse encontro de irmãos”. Foi com essa canção que a indígena do povo Omágua/Kambeba, a compositora e escritora, Marcia Wayana, iniciou sua fala. Ela, que ocupa um lugar na Academia Brasileira de Letras, falou da luta constante da reafirmação da sua identidade e garantiu que por ser mulher essa luta é ainda maior. “A mulher começa a aparecer nas decisões do seu povo. Nós temos essa importância na preservação da cultura”. Sobre a discriminação, ela afirmou que a cultura é cíclica. “Por que nós temos que ficar para trás? Não somos objetos de antiquário”, questionou sobre a crítica de algumas pessoas a respeito dos indígenas estudarem em cidades e adotarem alguns hábitos urbanos.

A cultura negra foi representada e lembrada por Sonia Terra e pela escritora Ana Maria Gonçalves. Sonia –  militante negra desde a juventude – falou do preconceito que viveu na época em que foi presidente da Fundação Cultural do Piauí, “ durante oito anos jamais tirei meu turbante. Ele era o representante da minha identidade negra”. Ambas relataram sobre a dificuldade de ser mulher e negra em uma sociedade com estereótipos brancos e europeus. Elas colocaram também que, apesar de ter, garantido pela ONU, o direito à igualdade, o sexo feminino ainda enfrenta desafios diários como a disparidade no salário mínimo. Sendo assim, a dificuldade de ter um emprego e se consolidar financeiramente ainda é um desafio e motivo de luta para a mulher.

A escritora de literatura de cordel, Salete Manso, expôs a dificuldade de estudar uma literatura marginalizada. Ela afirmou querer políticas públicas mais efetivas “os editais, para nós, não são democráticos. É necessário mudar o tipo de linguagem para que todos possam ter acesso garantido”.  Para tentar democratizar, ela mantém um blog sobre os cordéis. “Uma política não governamental”, ironiza Salete.

O debate foi encerrado com diversas discussões de gênero e a mensagem de união das mulheres para garantia de seus direitos. O Seminário é resultado de diversas discussões na área da cultura e diversidade cultural. Anteriormente, foram implementados debates sobre mulher e cultura, desde a IV Conferência Estadual de Cultura, que possibilitou discussões segmentadas sobre a temática. Além disso, em 2013, foi realizada a I Conferência Setorial de Mulher e Cultura, que encaminhou para encontro nacional demandas específicas do setor e articulou a formação de um grupo de debate para dialogar juntamente com os órgãos, as proposições de demandas.

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