Lia Sfoggia e Guilherme Bertissolo apresentam “m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau”

DSCF0002O espetáculo, montado no Teatro do Goethe-Institut (ICBA) e vencedor do Prêmio Vivadança 2012, trabalha a relação entre o corpo, a música e a capoeira e sua concepção se baseia numa realidade em que música e movimento acontecem simultaneamente.

 

 

 

 

Por Marília Moura

 

As atividades da 6ª edição do Vivadança Festival Internacional acontecem até o dia 29 de abril, em quatro espaços culturais:Teatro Vila Velha, Teatro Moliére (Aliança Francesa), Teatro do Goethe-Institut (ICBA) e Cine-Teatro Solar Boa Vista. No mês de maio, parte da programação do Festival será apresentada em Belo Horizonte e Brasília. Artistas e profissionais da dança de 18 países estão em Salvador para participar do evento que celebra o mês da dança através de uma programação que conta com espetáculos, oficinas, debates, exibição de vídeos e exposições.

Entre as atrações do Festival está o Prêmio Vivadança, criado em 2010 com a intenção de fomentar criações coreográficas e incentivar a pesquisa e a produção de novos espetáculos de dança na Bahia. Na primeira edição, Odete, traga meus mortosmontagem do coreógrafo e bailarino Edu O., foi a produção vencedora. Em 2011, o projeto contemplado foi o solo Fricção, da coreógrafa e bailarina Isaura Tupiniquim. Este ano, os vencedores foram a coreógrafa Lia Sfoggia e o músico Guilherme Bertissolo. Ambos apresentam, esta semana, no Teatro do Goethe-Institut (ICBA), o espetáculo m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau.

Relações

O espetáculo vencedor do Prêmio Vivadança trabalha a relação entre o corpo, a música e a capoeira. Lia Sfoggia, que é capoeirista, explica que a capoeira é uma realidade na qual música e movimento acontecem simultaneamente, onde ambos têm o mesmo grau de importância e não são elementos desconexos. Com base nessa realidade em que música e ação vêm juntas, a coreógrafa e o músico compuseram o espetáculo. “A capoeira está presente em meu corpo, se pratico todos os dias, o corpo vai absorvendo essa informação. O Guilherme selecionou alguns parâmetros e nós tentamos desenvolver o trabalho a partir dos parâmetros que ele escolheu. Temos quatro parâmetros: ciclicidade, incisividade, circularidade e surpreendibilidade. Cada ato da peça é referente a um desses conceitos, eles se misturam durante a apresentação, mas cada ato tem uma ênfase maior em um deles”, esclarece Sfoggia.

m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau é composto de quatro cenas e em alguns momentos há interlúdios com vídeos. Sua concepção é resultado da parceria entre a coreógrafa Lia Sfoggia e o músico Guilherme Bertissolo. Ambos desenvolvem trabalhos juntos há sete anos. O espetáculo teve início com o trabalho de composição musical de Bertissolo, que atualmente faz doutorado na Escola de Música da UFBA (EMUS/UFBA). O pesquisador analisa a capoeira e tenta transpor alguns aspectos para a música. “Dentro de uma série de peças que ele está compondo, algumas são eletroacústicas, músicas eletrônicas feitas no computador, dessa série, escolhi fazer um trabalho coreográfico. Fomos para a Califórnia, onde fizemos uma residência artística, e lá o espetáculo começou a ser desenvolvido”, relatou a coreógrafa. Segundo Sfoggia, eles compõem as cenas discutindo os elementos que Bertissolo analisa na capoeira e desenvolve na música, enquanto ela elabora os movimentos da coreografia.

Dança e música

Lia Sfoggia e Guilherme Bertissolo fizeram mestrado na UFBA, respectivamente, na Escola de Dança e na Escola de Música. As pesquisas desenvolvidas por ambos refletem no trabalho que irão apresentar no Vivadança. Em seu mestrado, Bertissolo explorou a relação intrínseca entre música e dança e compôs o espetáculo Noite. Nesta produçãoo músico fez a partitura e a notação de movimento e a coreógrafa interpretou o espetáculo.m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau é um capítulo da tese de doutorado do músico“Todo o arcabouço conceitual da peça, é um recorte da minha pesquisa de doutorado”, observa Bertissolo. Em sua dissertação, Lia Sfoggia estudou a utilização da notação para compor dança. A notação é um conjunto de símbolos criado pelo dançarino, coreógrafo e teórico da dança, Rudolf Laban, que torna possível descrever o movimento. Existem dois tipos de notação: a Laban notação e a MOTIF DESCRIPTION; Sfoggia trabalha com a MOTIF. “Ela permite que eu dose melhor quão descritiva quero ser na escrita e análise do movimento”, conforme explica. Em seu doutorado, a coreógrafa pretende utilizar a notação para trabalhar com dança afro-brasileira.

Produções

Em Salvador, além de Noite, a dupla também apresentarou a performance O poder na sua mão, com a participação de outras bailarinas da Escola de Dança da UFBA. Nessa produção, expõem símbolos para o público e as pessoas escrevem o que percebem, em seguida, Lia Sfoggia interpreta o movimento e Guilherme Bertissolo, a música.

Antes do Prêmio Vivadança, a coreógrafa e o músico venceram um prêmio de residência artística do Barbara and Culver Center of Arts, na Universidade da Califórnia. Durante a residência de um mês, trabalharam em parceria com uma musicista e uma bailarina. Nesse período, ministraram workshops e palestras e desenvolveram performances. Foi durante esse processo de vivência na Califórnia que m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau começou a ser desenvolvido.

Sfoggia e Bertissolo também são membros da Associação Civil Oficina de Composição Agora (OCA), sem fins econômicos, que registra e divulga projetos de música e arte contemporânea. A OCA foi criada na EMUS/UFBA por quatro músicos, sob a orientação do Prof.º Paulo Costa Lima e atualmente conta com nove integrantes. Alguns dos projetos produzidos pela OCA são o Camará, Conjunto de Câmara da UFBA, e o Bafrik: O que a Bahia tem a ver com a África?, uma rede de intercâmbio musical.

Estreia

Em relação à estreia do espetáculo no Festival Vivadança, a coreógrafa afirma que as expectativas são as melhores possíveis. “Espero que as pessoas questionem e tentem entender o quão longe a capoeira vai”, conclui. Além de incentivo financeiro para cobrir as despesas de produção, o Prêmio Vivadança oferece pautas dentro da programação do Festival para o espetáculo vencedor.m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau conta com a colaboração artística da prof.ª da Escola de Dança da UFBA Marta Saback e com a participação de Alexandre Espinheira, músico e também integrante da OCA.

 

Serviço

O que: m’bolumbümba: entre o corpo e o berimbau

Onde: Teatro do Goethe-Institut (ICBA)

Quando: 25 a 28 de abril, 19h

Quanto: R$ 10 e 5

Site: http://www.festivalvivadanca.com.br/2012/pt/home

Realização: Teatro Vila Velha / Baobá Produções / Ministério da Cultura

 

 

 

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