Observatório Universitário da Cultura Popular mapeia grupos culturais

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Por Marília Moura*

 

O Observatório Universitário da Cultura Popular é uma iniciativa dos membros da Agência Experimental em Comunicação e Cultura (AECC), instância da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), que desenvolve atividades de extensão baseadas na utilização dos instrumentos de comunicação para auxiliar e contribuir com a organização de comunidades e movimentos sociais. Atualmente a Agência Experimental realiza outros dois projetos, além do Observatório, o “Jornal da Agência Experimental” (JáÉ) e o “Agenciação”, projeto que promove apresentações de dança, música, teatro, artes visuais e outras expressões culturais com o objetivo de incentivar a difusão da cultura popular em âmbito acadêmico.

 

O Observatório é um projeto elaborado pelos membros da AECC que foi aprovado no edital Proext 2010 – MEC/SESu. Através dos recursos oriundos do edital, os participantes realizam o mapeamento da produção cultural comunitária de Salvador. O estudante de Produção Cultural, Leandro Souza,  que participa da Agência Experimental, explica que a proposta do projeto é analisar a gestão de grupos culturais de alguns bairros periféricos de Salvador, com ênfase no Subúrbio Ferroviário e em bairros que estão no entorno da Ufba. “Pretendemos com este projeto entender como surgiram os grupos, a lógica de funcionamento dos mesmos, a receptividade e repercussão dos trabalhos realizados por eles na própria comunidade e conhecer as dificuldades e os desafios encontrados”, afirmou Leandro.

 

O mapeamento está organizado em duas fases, a Etapa Subúrbio – que em alguns casos abrange bairros próximos como Águas Claras, Pirajá e Ribeira – e a Etapa entorno do Campus Ondina da Ufba, que vai mapear grupos culturais do Calabar, Federação, Garcia e Alto das Pombas. Segundo Leandro Souza, a metodologia do mapeamento consiste “no contato presencial com os grupos e, simultaneamente à visita, são feitos os registros audiovisuais das atividades e é aplicado um questionário com perguntas referentes à gestão do grupo ou equipamento cultural. Após este processo, digitalizamos os relatórios e publicamos no nosso “Diário de Bordo” as impressões pessoais sobre o contato com os grupos, acrescentando as informações básicas para que outras pessoas interessadas possam conhecer de perto os trabalhos e projetos mapeados”, relatou. Ele também ressaltou a importância da parceria com o Centro Cultural Plataforma, que disponibilizou uma lista de contatos de grupos culturais, para que os agenciadores pudessem entrar em contato com os grupos.

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Emancipação – O coordenador do Observatório Universitário da Cultura Popular, professor José Roberto Severino, observa a relevância do projeto para a emancipação cidadã dos estudantes e dos grupos culturais envolvidos no mapeamento. Ele ressalta que “os trabalhos do Observatório têm uma dinâmica que é resultado da organização dos alunos participantes” e que “há uma exuberante Salvador pulsando cultura e reinventando formas de estar-juntos”. Na opinião dele, o trabalho no Observatório é uma experiência muito positiva na formação dos estudantes, pois, o “contato com as práticas de organização da cultura vivenciadas em comunidades permite formar um profissional da produção cultural capaz de lidar com os desafios dos novos arranjos culturais”, observa o professor, que coordena o projeto desde junho de 2011, quando foi convidado pelo diretor da Facom/Ufba e tutor da Agência Experimental, o professor Giovandro Ferreira, para coordenar o Observatório.

 

Intercâmbio – O professor José Eduardo Ferreira Santos que é fundador do “Acervo da Laje”, um dos 55 grupos mapeados pelo Observatório Universitário da Cultura Popular, afirmou que o mapeamento é uma experiência muito positiva, pois, é uma “possibilidade de divulgação e também de análise a partir de um olhar externo do trabalho que estou realizando”, declarou o professor.

 

O “Acervo da Laje” é resultado de pesquisas realizadas há mais de 15 anos no Subúrbio Ferroviário de Salvador, particularmente em Novos Alagados, pelo professor José Eduardo. Segundo ele, a iniciativa visa “difundir a beleza, a cultura e a produção artística do Subúrbio Ferroviário, procurando retirar os estigmas relacionados à população, mostrando que também produzimos a beleza que está disseminada pelo mundo inteiro, menos para os moradores daqui, que não sabem que ela existe”. O “Acervo da Laje” é uma ação particular desenvolvida por José Eduardo Ferreira sem incentivos governamentais. Segundo ele, esse trabalho conta apenas “com a ajuda de amigos que doam livros para que a biblioteca seja um espaço de encontro dos moradores com a literatura e os livros acadêmicos, pois muitos jovens de Novos Alagados começam a ingressar na Universidade e não dispõem de recursos financeiros para obtê-los”, ressaltou o professor. O “Acervo da Laje” é formado por mais de 100 obras dos artistas do Subúrbio Ferroviário, entre quadros, esculturas e máscaras em madeira, azulejos policromados, CDs, artesanato local, entre outros. Sobre essas obras de arte, José Eduardo salienta que seu intuito é “mostrar que a beleza produzida na periferia e ganha o mundo precisa ser vista aqui”, pois, “a maioria das obras jamais foi vista por muitas pessoas da periferia, porque são vendidas para turistas do mundo inteiro”, destacou o professor.

 

Além dos livros, o Acervo também disponibiliza para o público, recortes de jornais, vídeos, CDs, publicações do próprio José Eduardo Ferreira, que é autor de quatro livros, e também há uma seção de livros raros e livros autografados. O “Acervo da Laje” é composto pela biblioteca “Zilda Paim”, com livros de temáticas variadas e a “Sala de Recepção – Cartola”, espaço reservado à audição de diversos CDs do acervo. O Acervo ainda dispõe de um estúdio musical onde a banda “Clandestinos 5” realiza seus ensaios e gravações.

 

Para José Eduardo, iniciativas como esta são fundamentais, pois, “colocar a Universidade a serviço da comunidade é uma demanda cada vez mais latente, principalmente neste momento de dinamismo cultural pelo qual passamos, com tantas iniciativas locais que não têm visibilidade ou apoio”. Na visão do professor, a Universidade acerta quando permite este intercâmbio, este encontro entre os estudantes e as pessoas que trabalham com a cultura de um modo comunitário e define essa experiência como “uma troca de saberes em que todos os envolvidos saem ganhando em aprendizagem, abertura de mundo e troca de experiências, além de colocar o Subúrbio Ferroviário de Salvador dentro da cidade, como há muito lhe é devido, mas sempre tem sido relegado”, relatou.

 

Resultados – Os dados colhidos durante o processo de mapeamento estão sendo discutidos no grupo de estudos da Agência Experimental, que se reúne quinzenalmente sob a orientação do professor José Roberto Severino. “As informações obtidas serão divulgadas na plataforma digital e no livreto, os produtos finais do projeto. Todo o conteúdo será de fácil acesso e direcionados para qualquer pessoa interessada nas temáticas da arte, da comunicação e da cultura”, informou Leandro Souza. Além disto, os agenciadores também pretendem publicar um artigo acadêmico para apresentar as ferramentas e resultados da pesquisa em algum seminário ou encontro de discussão cultural universitária. A conclusão do trabalho do Observatório deve acontecer entre janeiro e fevereiro de 2012.

 

*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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