UFBA em Paralaxe: novos pontos de vista dentro da universidade

*Por Rayssa Guedes

“Paralaxe: Deslocamento de um objeto, quando se muda o ponto de observação”. É com essa expressão, retirada dos princípios da Física, que a Universidade Federal da Bahia lança um novo programa para diminuir as distâncias entre as pessoas que fazem parte de sua comunidade. “Ver o objeto de uma nova maneira, olhar melhor, deslocar uma ideia fixa sobre a coisa observada, tirar os preconceitos de frente, ter uma visão mais paralática, se auto-enxergar também”, essa é a proposta do programa “UFBA em Paralaxe: Reinventando Concepções”, de acordo com a Coordenadora de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (PROAE/ UFBA), Lenira Rengel.

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Professora Lenira Peral Rengel.
Foto: Virgínia Andrade

O Programa, que teve lançamento na última quinta-feira, 10, na Biblioteca Central da UFBA, no Campus de Ondina, reuniu estudantes, professores, servidores e convidados especiais para a exibição do filme “Elvis e Madona” (2010), do diretor Marcelo Laffitte, além de um debate sobre o longa e as temáticas envolvidas.

UFBA em Paralaxe é um projeto idealizado pela PROAE em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), Grupo Gay das Residências (GGR), Coletivo KIU (Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual), MMR, Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (NEIM), Núcleo de Apoio à Pessoa com Necessidade Especial (NAPE) e demais grupos representativos da UFBA. Visam, em conjunto e com outras instâncias da universidade o engajamento de estudantes, técnicos e professores para temas como discriminação étnico-racial, opressão e violência contra a mulher; diversidade sexual e de gênero; inclusão de pessoas com deficiência. Trata-se de questões que impactam no dia-a-dia da universidade e sensibilizam a qualidade de vida e autoafirmação de grupos específicos da sociedade.

A Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Dulce Aquino, reiterou o objetivo do projeto afirmando que ele deve ajudar a transformar a Universidade num conjunto harmonioso. “Não se trata só de assistencialismo, mas sim da possibilidade de dar condições de melhoria de qualidade de vida a alunos, professores, servidores, técnicos e administradores. Porque uma universidade é bem mais que um conjunto de faculdades. Transcende a isso”, destacou a Pró-Reitora. Dulce ainda defendeu a importância de se colocar em pauta, criar o debate e problematizar temas marginalizados e polêmicos com as demais instâncias da universidade, como forma de unir a comunidade acadêmica: “Quanto mais a gente conhece o outro, temos possibilidade de ter um diálogo e um estar conjunto mais agradável. Se debatemos a questão da diversidade, das diferenças, isso une, não separa. Porque a gente conhecendo passa a entender e corresponder a isso naturalmente. Esse é o ponto de exercício para termos uma sociedade menos intolerante”, relata.

A Pró-Reitora de Ações Afirmativas, Dulce Aquino, falou sobre a importância de se discutir a diversidade na UFBA. Foto: Virgínia Andrade
A Pró-Reitora de Ações Afirmativas, Dulce Aquino, falou sobre a importância de se discutir a diversidade na UFBA.
Foto: Virgínia Andrade

Prestigiando o evento, a reitora da UFBA, Dora Leal Rosa, posicionou-se a favor do projeto ocorrer dentro da universidade: “A universidade é o lugar mais importante e fundamental a discutir, buscar e ajudar a pensar para que essa reflexão que construímos dentro da universidade possa se propagar para a sociedade. Se a universidade se fecha é consequente que a sociedade se feche mais”, afirma a reitora.

A reitora Dora Leal Rosa esteve presente no lançamento do Programa. Foto: Virgínia Andrade
A reitora Dora Leal Rosa esteve presente no lançamento do Programa.
Foto: Virgínia Andrade

Cine Encontro Abrindo a primeira edição do projeto, o filme Elvis & Madona apresenta a temática sobre sexualidade e trata de forma ampla o acolhimento e respeito às minorias. Filme brasileiro finalizado em 2010 e lançado em meados de 2011, dirigido por Marcelo Laffitte, Elvis e Madona conta a história de um casal formado por uma lésbica e uma travesti, interpretados por Simone Spoladore e Igor Cotrim. Elvis (Simone Spoladore) sonha em ser uma fotojornalista, mas a necessidade de sustento faz com que  aceite o emprego de entregadora de pizza. Madona (Igor Cotrim) é uma travesti que trabalha como cabeleireira e sonha em produzir um show de Teatro de Revista. Logo após conhecer Elvis, que é homossexual, elas se tornam grandes amigas. Mas, ao longo dos primeiros encontros, o sentimento de amizade dá logo lugar a algo mais forte. Um romance entre as duas transforma suas vidas.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

O diretor do filme, Marcelo Laffitte, que também compareceu ao evento e esclareceu alguns pontos indispensáveis para a construção do seu longa, destacou sua  característica em retratar “temas marginais” e explica: “Não é a marginalidade no sentido da bandidagem, mas a marginalidade no sentido de estar à margem da sociedade”, relata o diretor, que também disse, no debate que se seguiu à exibição, que todo artista precisa estar à margem da sociedade para poder falar sobre ela. Laffitte ainda assinalou  o caráter propositivo de Elvis e Madona salientando que “enquanto obra arte, sua função é de propor e criar soluções para a sociedade, uma nova história”.

UFBA em Paralaxe abriu sua primeira edição com sucesso de público e já se programa para outras atividades ainda neste ano. Segundo Dulce Aquino, as próximas atividades acontecerão durante o “Novembro Negro”. Debates sobre a questão do racismo e a Semana dos Povos Indígenas já são atividades confirmadas.

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