Rede Iris: Agenda Cultural especializada em acessibilidade é criada em Salvador

rede iris 33png Agenda digital reúne informações sobre a acessibilidade em equipamentos culturais

Por Mariana Gomes

Qual a distância entre os equipamentos culturais e os cidadãos? Imagine que depois de uma maratona no transporte público, chegar ao local em questão e não conseguir acessar os conteúdos de museus, bibliotecas e cinemas. É o que acontece com muitas pessoas com deficiência. A falta de suportes de acessibilidade como rampas, intérpretes de Libras, audiodescrição, legenda descritiva, Braille e conteúdo tátil impede a experiência cultural para esses indivíduos.

Com o objetivo de contribuir na derrubada desses obstáculos, estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) criaram a Rede Íris, uma agenda digital que reúne informações sobre a acessibilidade em equipamentos culturais na capital baiana. Agindo em três frentes: mapeamento, divulgação e produção de conteúdo sobre acessibilidade, segundo a idealizadora do projeto, Jurema Alves, “pensamos não apenas na acessibilidade física, mas também na acessibilidade comunicacional e atitudinal. Não adianta as pessoas com deficiência chegarem aos espaços e não serem acolhidas”, relata a psicóloga e estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes.

A Rede Íris está em fase de implementação e para isso é uma das iniciativas inscritas na Rede Logos, uma plataforma colaborativa (crowdsourcing) voltada para a produção artística, cultural e para o desenvolvimento de projetos de inovação nas universidades. 

Segundo o professor Adriano Sampaio, coordenador da Agenda Arte e Cultura e da Rede Logos, o projeto tem potencial de expansão.  “Em função da necessidade urgente de promovermos de inclusão, a Rede Iris tem grande potencial em discutir esse tema e atingir as pessoas que precisam de uma agenda mais inclusiva e do público geral que necessita conhecer mais as questões de acessibilidade, como uma forma de convívio em sociedade. As políticas públicas têm avançado em relação aos marcos legais, mas ainda temos poucas iniciativas de projetos voltados para esse público”, argumenta o professor.  

Segundo o Plano Nacional de Cultura, o acesso cultural às pessoas com deficiência deve se embasar na adaptação dos espaços físicos para suas necessidades e na oferta de bens culturais em formatos acessíveis. Um estudo de 2017 da Secretaria Especial de Cultura, vinculada ao Ministério da Cidadania, mede o nível de adaptação dos equipamentos culturais. Por exemplo, somente 1% das instalações os museus brasileiros estão adaptadas. Dos centros culturais monitorados pelo país, somente 6% cumprem as exigências.  A meta de ajustes tem como data final o ano de 2020. Através da Agenda de Arte e Cultura serão produzidos textos, vídeos e outros conteúdos a partir de mecanismos que garantam a acessibilidade de pessoas com diferentes necessidades.

Protagonismo
Conhecer a cultura local não é luxo, mas sim fundamento para a cidadania. E para colocar a Rede Íris para frente um time de estudantes reconhece que representatividade é fundamental numa ação que considera a experiência de pessoas com deficiência. Para Ednilson, jornalista formado na Faculdade de Comunicação da UFBA, “A iniciativa da rede íris é oportuna, porque trabalhamos com cultura e disseminação do conhecimento e essa info deve chegar a todas as pessoas, e necessária, pois sem iniciativas como essa provavelmente não iríamos produzir para os sujeitos com alguma deficiência”. 

Outra personagem desse time é Adauto, estudante jornalismo na mesma instituição. Com a rede Íris tem sua primeira oportunidade de trabalho na área. “Espero dar vez e voz a pessoas que assim como eu talvez não tenham tido essa oportunidade”, relata o estudante em sua entrevista à Agenda de Arte e Cultura.

Atualmente Jurema estuda Bacharelado Interdisciplinar em Artes pela UFBA e tem se aprofundado em disciplinas que discutem e formam os participantes sobre as questões de acessibilidade. Seu interesse pelo assunto surgiu ainda na primeira graduação, ao se deparar com os assuntos em torno das deficiências intelectuais. “Acredito que a cultura é um espaço de encontro e reflexão, que nos colocamos até para nos repensar. Daí, junto com os conhecimentos que tive acesso antes, idealizamos a rede Íris. É uma maneira de abrir espaço e estar junto, abrindo mais diálogos sobre acessibilidade na Universidade”, comenta Alves.

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