As marcas da revelação fotográfica na exposição Perder de Vista

Exposição da artista visual, Renata Voss, tem como diferencial a utilização de técnicas alternativas de revelação fotográfica

 Luiza Leão

Está aberta para visitação até o dia 19 de março, na Galeria Acbeu, no Corredor da Vitória, a exposição Perder de Vista da fotógrafa Renata Voss. As obras destacam-se pelas técnicas alternativas utilizadas nos processos de revelação fotográfica. A artista, professora de fotografia da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, e doutoranda em Artes Visuais também pela UFBA, estuda a relação entre a fotografia e o movimento.

Segundo Renata Voss, a importância da materialidade da imagem está nos possíveis acréscimos que esses processos dão ao trabalho artístico. As características das revelações fotográficas são resultado da aplicação de uma solução química, que varia de acordo com a técnica utilizada.

O gestual do pincel é determinante para limitar o local em que a fotografia, produzida em câmera digital e impressa em transparência, seja copiada para o papel e contribui para a singularidade de cada cópia.  A finalização dos processos ocorre com a exposição do papel e as químicas à luz solar.

Em algumas técnicas, como o cianótipo, a lavagem do papel em água corrente é também necessária para que os químicos não atingidos pela luz solar sejam removidos. “É um trabalho que exige muita dedicação e paciência. São muitos detalhes em muitas etapas que vão desde a organização do laboratório, diluição do químico e preparação do papel”, explica Voss.

O papel precisa ser mais grosso para que não se deteriore com a química e a lavagem em água corrente e a preparação dele se dá em laboratório. O mais adequado e mais utilizado pela artista é o de aquarela, por conter maior resistência.

Sobre as obras

“Os trabalhos que compõem ‘Perder de Vista’ tratam, cada um à sua maneira, do desaparecer, da efemeridade de lugares e pessoas”, detalha a artista. A escolha das técnicas utilizadas em cada trabalho se dá pela possibilidade das mesmas potencializarem as questões trazidas em cada obra. São técnicas diversas, como a goma bicromatada, o papel salgado, a cianotipia, o marrom Van Dyke e o anthotype.

“Márcia e Eris” foram fotografias de dois amigos já falecidos, reveladas diretamente em folhas de girassóis. A escolha da folha da planta busca a luz, veio como uma forma simbólica de homenageá-los. Na técnica utilizada, antotype, a fotografia desaparece ao longo do tempo e esse é um grande diferencial da técnica.

Eris_Anthotype_renatavoss_2015
Foto: Divulgação

“Alagoas Iate clube” é uma série de fotografias de um clube já desativado em Maceió que  documenta a degradação da construção no espaço urbano em diferentes momentos.  A segunda imagem que compõe a sequência fotográfica evidencia a degradação com a ausência de uma parte do telhado e do letreiro do clube. Segundo a fotógrafa, a série foi trabalhosa por necessitar de cliques em diferentes momentos. A primeira foto foi feita em 2012, e revelada em 2015, ano em que as demais foram feitas e reveladas.

Técnicas de revelação

No cianótipo, após a aplicação química e exposição à luz solar, o papel é lavado em água corrente por em média 15 minutos. Segundo Renata, esse foi o processo menos utilizado na história da fotografia. Além de não utilizar o  nitrato de prata, que auxilia na fixação dos químicos, o tempo gasto para a revelação e a limitação das cores (em tons de azul) são fatores que contribuíram para a menor utilização da técnica que utiliza ferricianeto de potássio e citrato de ferro amoniacal.

A goma bicromatada é o único processo de revelação alternativa em que a cor da fotografia pode ser escolhida, porque além da goma arábica e dicromato de potássio são acrescentadas aquarela, com diferentes camadas de cores, deixando a cópia secar e adicionando novas camadas.

Na técnica baseada no papel salgado, é utilizado um papel comum de qualquer origem, que é fotossensibilizado para reagir com a luz, a partir da aplicação de cloreto de sódio e nitrato de prata. Este processo não revela toda a imagem, que só se forma após a exposição à luz solar. A fixação se dá em tiossulfato de sódio e a revelação acontece em tons de cinza e marrom.

Para o marrom van dyke, processo no qual a revelação se dá em tons de marrom, utiliza-se ácido tartárico, citrato de ferro amoniacal e nitrato de prata, e a fixação também se dá em tiossulfato de sódio.

Não há uma disciplina na Escola de Belas Artes da UFBA que trata desses processos de revelação alternativa e a fotógrafa procura ensinar em sua disciplina algumas dessas técnicas, muito buscadas pelos seus alunos, principalmente após a exposição.

Temos o hábito de revisitar pouco aquilo que se fotografa. A fotografia impressa permite que o papel leve adiante as lembranças. “Precisamos entender os novos meios, mas compreender as suas limitações”, defende.

Fotos: Divulgação
Vídeo: Flávia Lima

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