Trampolim do Forte emociona plateia do Cinemas em Rede

Por Natácia Guimarães

Trampolim do Forte, filme produzido pelo baiano João Rodrigo Mattos, foi exibido na última terça-feira, 14, no cinema Sala de Arte da UFBA, como parte do projeto Cinemas em Rede, produzido pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) da universidade. A exibição do longa foi seguida por um debate com o diretor, com a profª. Heloniza Gonçalves, coordenadora do grupo gestor do Fórum Comunitário de Combate a Violência (FCCV) e um ator do filme, Ewerton Machado. A obra, ganhadora do Prêmio de Honra no Festin, em Lisboa, e do I Prêmio Globo Filmes de Desenvolvimento de Roteiro, agradou e emocionou o público.

O filme retrata o cotidiano da vida dos moradores de uma das partes mais pobres da comunidade da Praia do Farol da Barra, em Salvador. A ligação entre as crianças que vivem no local e a relação delas com a família, o mar e os problemas sociais que os cercam são temas relevantes da obra.

O trampolim que deu nome ao título do filme faz referência a prancha de madeira que fica localizada na Praia do Porto da Barra. Segundo o autor, o trampolim é o lugar onde as crianças podem ser crianças e trocar confidências, seja quais forem os problemas que estão enfrentando. O mar, segundo João, é uma metáfora do líquido amniótico. É o lugar onde todos os “trampolineiros” se sentem seguros. “Quem domina o trampolim são as crianças”, finaliza o diretor.

O filme é formado por 14 atores mirins, que foram selecionados entre 400 meninos e, posteriormente, passaram por uma etapa de preparação e formação. “Dos 400 meninos, 45 foram selecionados para receberem uma formação. Foi retirado 20% do orçamento total do filme para investirmos na escola de formação, chamada Trampolim das Artes. Onde demos uma formação completa para os meninos: aulas de dança, de teatro e de música; além de outras sobre saúde, doenças sexualmente transmissíveis e acompanhamento psicológico com profissionais especializados”, explicou João Mattos.

Ewerton, que interpretou Fuleirinho no filme, é um exemplo de que o auxílio prestado pela produção possibilitou aos atores alguns benefícios, como ter uma base mais sólida para lidar com a fama e “pós fama”. “Foi uma experiência inexorável. Sou morador da Barra e, desde antes do filme, fazia teatro no CRIA (Centro de Referência Integral de Adolescentes). O filme me fez saber o que eu queria fazer da minha vida. Sentir que eu estava tirando um sorriso de uma criança me deixava muito feliz,” disse Ewerton, hoje com 19 anos.

O longa metragem dialoga diretamente com o cotidiano e com os problemas enfrentados pela população local, como prostituição, tráfico de drogas, corrupção da polícia, fanatismo religioso, alcoolismo, desestruturação familiar entre outros. É um filme com uma linguagem realista, mas que, ao mesmo tempo, traz poesia, que é possível de sentir através da fotografia e da trilha sonora.

Um professor de educação física, que estava na plateia, fez questão de dar o seu depoimento ao fim da exibição: “Fiquei emocionado ao ver o filme pelo fato de ter vivido a realidade mostrada na tela. Passou um filme de lembranças na minha cabeça. É um trabalho brilhante e sensível”. O professor não foi o único que se emocionou, a sala do cinema estava cheia e, quando as luzes se acederem, a emoção era visível em quase todos os rostos.

O filme estreará em Porto Alegre e em Florianópolis no próximo mês e, segundo o diretor, em breve terá exibições gratuitas nos bairros de Plataforma, Porto da Barra e na Ilha de Maré.

Imagens de divulgação do filme.
Imagens de divulgação do filme.

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