‘Colocamos likes e compartilhamos sem pensar no que isso vai contribuir’, diz Pierre Lévy

Filósofo francês é o palestrante do Fronteiras Braskem do Pensamento

Por Madson Souza e Mariana Gomes

Conhecido como um pesquisador bastante otimista pela promessa das tecnologias de informação, o filósofo francês Pierre Lévy está na cidade de Salvador para a conferência Fronteiras do Pensamento. O evento, criado em 2006, reúne pensadores e profissionais reconhecidos com o intuito de nos ajudar a refletir sobre questões da atualidade. 

Na palestra marcada para acontecer na noite desta terça-feira (10), o filósofo garante conversar com seu público sobre internet e comunicação, mas propõe uma discussão além. A partir do tema “Qual o sentido de buscar um sentido?”, o francês pretende trazer a reflexão de como a humanidade produz sentido e significados. Com bom humor divertiu-se com a amplitude e pretensão do assunto base, “Normalmente deixo essa questão para outras pessoas”.

O tema generalista da conferência talvez dificulte o entendimento sobre qual assunto da palestra, mas o filósofo francês buscou esclarecer logo de cara durante a coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (9). “O que vou tentar fazer é que as pessoas reflitam sobre essa ferramenta extraordinária que é a linguagem”, explicitou.. 

A conferência será mediada pelo professor André Lemos, do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da FACOM/UFBA. A apresentação está por conta do músico e ator Fernando Marinho. O evento será a partir das 20h30, no Teatro Castro Alves.

Linguagem
Ao longo da explicação pontuou coisas tais como: que o nascimento do significado não é relacionado a humanidade, ele existe já na natureza; também sobre a utilização das palavras como via de confirmação para casamentos, guerras e diversas outras questões.  Ainda ressaltou as possibilidades que nos diferenciam dos animais, exemplo o ato de contar histórias, perguntar e dialogar. 

“Existe algo de fantástico que é a capacidade de realizar ações no interior da linguagem”, ressaltou o autor. Porém, não se esquece das expectativas do público em torno das suas falas “gostaria de dizer que vou falar da internet e da comunicação, porque se eu não falasse todo mundo estaria decepcionado”, brincou.   

Memória Coletiva
Abordando sobre a linguagem, Lévy destaca a importância das histórias para responder a questão do sentido da vida em comunidades tradicionais e como isso se perpetua nas sociedades atuais.

Perguntado sobre a memória coletiva construída nesse momento a partir das tecnologias de informação e comunicação, ele apontou os desafios que envolvem o uso cotidiano das redes sociais. 

“Cada vez que damos um like, usamos uma tag ou assinamos um serviço, enfim, todas ações que fazemos online contribuem para organizar a memória coletiva, através da mediação dos algoritmos”, explicou. E continuou: “É como se déssemos a ordem para que esses dados ficassem mais visíveis e se conectem outras informações”, defendeu o filósofo.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2018, no Brasil aproximadamente 60% dos brasileiros têm algum tipo de acesso à internet. Isso acontece principalmente através de celulares, com a conexão 3G e 4G, e alto uso de aplicativos de troca de mensagem e imagens.

Ainda que esteja sincronizado com a inclusão digital a nível mundial, no país há ainda 40% de cidadãos sem nenhum acesso à internet. Mesmo assim, esses indivíduos estão sendo influenciados pelas transformações tecnológicas e participam da construção de narrativas sobre essas inovações, ainda que não estejam protagonizando.

O filósofo também crítica e busca gerar um questionamento sobre nossos hábitos no âmbito digital. “Estamos numa rede social em que colocamos likes e compartilhamos sem pensar se isso vai contribuir para a raiva, agitação, ou paranóia; ou vai contribuir para uma reflexão ética, calma e objetiva”, apontou. 

Pierry Lévy reforçou a potência da linguagem tema da conferência marcada para 10 de setembro (hoje), a partir das 20h30, no Teatro Castro Alves. “Nós vivemos dentro da linguagem e muitas vezes não entendemos”, argumentou. “Esse é o tipo de coisa que estarei tratando amanhã (hoje). A questão que vou tentar responder é como fazemos para construir significados, sentidos”, encerrou sua fala. 

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