Mestre Renê: uma capoeira com cor e com nome

Mestre entrou na capoeira para aprender a se defender 

Marcelo Azevedo*

Mestre Renê sempre foi um sonhador. Durante sua infância em Teodoro Sampaio, município a cerca de 100 km de Salvador, era movido pelo desejo de morar na capital. “Quero ir para a Bahia, mudar de vida”, era o que dizia na época. E foi ao mudar-se para a cidade, na adolescência, que o Mestre ingressou em sua grande paixão: a capoeira. No começo, queria aprender apenas para se defender enquanto passava os dias caminhando pelas ruas com os meninos mais velhos e fazendo favores para ajudar sua família. Mas a arte marcial tornou-se muito maior que isso. 

Sua entrada na capoeira foi através do Mestre Jorge Satélite, um jovem capoeirista na época, que o motivou, sobretudo, a lutar. “Ele me chamava para entrar na roda, bater em quem viesse em cima de mim”. Porém, quem manteve os seus sonhos acesos foi Paulo dos Anjos, mestre de Satélite, a quem Renê agradece pelo lugar que ocupa hoje. “O Mestre Paulo alimentava minha alma, me convencia que eu poderia ser um vencedor. Ele me ensinou que era possível transformar meus sofrimentos em vitórias”.

Hoje, Renê mantém vivo o legado de Paulo dos Anjos em sua vida. Através da Associação de Capoeira Angola Navio Negreiro (ACANNE), o mestre realiza atividades comunitárias para aproximar a capoeira e a cultura africana dos jovens, principalmente das crianças negras. O que o motiva? “Dizer a eles que é possível continuar sonhando”. O mestre acredita no poder da cultura, que transformou sua vida e pode ser uma forma de mudança social para muitos outros. Seu trabalho o ajuda a não esquecer suas raízes.

O mestre destaca que, apesar da história negra, o ambiente da capoeira não está livre do racismo. Se antes o preconceito era contra a capoeira em geral, por ser praticada por negros, hoje pessoas brancas se lançam e tentam dominar esses espaços, diz ele. “Um capoeirista negro é visto apenas como prestação de contas para a sociedade. Os empresários brancos da capoeira não deixam um homem ou uma mulher negra se projetar, sempre vão nos cobrar muito mais do que eles sabem”, explica.

Por isso, carrega uma postura antirracista em seu cotidiano, fazendo questão de trazer a pauta racial e a cultura africana em suas atividades. Ele conta que até já foi chamado de racista por suas posições, e seu grupo, por ser de maioria negra, também já sofreu com esse tipo de ataque. Mas nada disso importa para Mestre Renê, que não deixa seu discurso se abalar. “Os protagonistas somos nós, negros e negras, porque a capoeira é nossa raiz. A minha capoeira tem cor e tem nome”.

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