Jornalismo digital e o ambiente de convergência

“É importante entender que estamos no ambiente da convergência como um todo e o Jornalismo é mais uma dessas facetas”

Por Artur Mello

O ambiente de convergência está cada vez mais presente em todas as esferas da vida contemporânea e o jornalismo como um todo está inserido neste contexto. Os grandes jornais e emissoras têm buscado, cada vez mais, se adaptar às características deste “novo” modelo de produção direcionado ao conteúdo digital. Quem afirma é a pesquisadora em Jornalismo Digital e professora substituta da Ufba, Juliana Teixeira.

Segundo a pesquisadora, existem três características fundamentais do jornalismo digital: a multimidialidade, a interatividade e a hipertextualidade”. Teixeira explica, ainda, que estas três características se articulam.  “Elas se relacionam, a partir do momento que você tem um conteúdo multimídia, você vai precisar usar a hipertextualidade para lincar aquele conteúdo. Com isso, o usuário vai ter a oportunidade clicar no link e daí surge a interatividade”.

O principal produto da convergência no jornalismo digital são os especiais multimídia, que possibilitam maior contextualização e aprofundamento, a partir da utilização de vídeos e infográficos, aponta a pesquisadora. Em outros países, estes recursos têm sido explorados, a exemplo dos especiais Snowfall (2012), produzido pelo The New York Times e, NSA Files Decoded (2013), pelo The Guardian. O jornalismo digital brasileiro tem buscado se adequar ao ambiente convergente e já produziu especiais de profundidade, como A usina de Belo Monte (2013), produzido pela Folha de S. Paulo, e o mais recente do Correio*, Silêncio das Inocentes (2015).

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Juliana Teixeira, professora substituta de jornalismo digital e pesquisadora

Produção Nacional de Especiais Multimídia

++Saiba mais: Agenda Convida recebe idealizadora do projeto O Silêncio das Inocentes

Thaís Borges, repórter do Correio* e idealizadora do especial Silêncio das Inocentes, contou como foi o processo de busca de referências para a construção deste especial. “Todo mundo quer ser ou ter seu próprio Snow Fall, né? Não posso dizer que, no começo, não falamos disso. O Snow Fall é um divisor de águas no jornalismo. Mas o Brasil tem feito muita coisa legal. O próprio Correio* tinha feito a série Tempo Perdido em 2014 e isso nos deu algumas referências internas de que ferramentas poderíamos usar. Mas eu comecei a ler muitos especiais daqui e de fora para ajudar a enxergar novas possibilidades”, contou.

A jornalista conta, ainda, um pouco do processo de construção do especial e as dificuldades que a equipe encontrou. “O Silêncio das Inocentes foi construído ao longo de quatro meses. Quando começamos, a gente não sabia exatamente como seria, nem qual seria o caminho percorrido, muito menos que levaria tanto tempo. Um dos maiores problemas da série foi que tivemos que percorrer todas as delegacias de Salvador para tentar conseguir as ocorrências dos casos de estupro, que, hoje, podem ser lidos no mapa do estupro. Mas eu acredito que uma das maiores dificuldades foi a de trabalhar sem saber exatamente como ficaria o produto final. Quando sugeri a pauta, não imaginava um centésimo disso”.

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Thaís Borges é jornalista do Correio* e participou do Agenda Convida de abril/2016

Jornalismo e Dispositivos Móveis

A pesquisadora destaca a importância do “saber pensar” para os profissionais na hora de produzir os conteúdos. É preciso considerar o público, entender que os dispositivos móveis são mais uma forma de divulgação e não o único. Teixeira falou, ainda, sobre a centralidade que ocupam as imagem e os conteúdos multimídia na produção direcionada aos dispositivos móveis. “Para os dispositivos móveis, a principal preocupação dos jornalistas deve ser no enquadramento das imagens, na produção dos vídeos e pensar também no consumo do conteúdo”.

O profissional “ideal” para a produção digital seria aquele que avalia as diversas formas de se realizar uma matéria, dentro das possibilidades que possui. Isso não significa que é necessário usar todos os recursos sempre. A professora acredita, ainda, que o domínio básico das tecnologias é necessário para uma boa atuação no campo. “Eu acredito que é necessário conhecer minimamente as maneiras como as tecnologias são aplicadas, como noções de edição de vídeo e fotografia”.

Juliana ainda ressalta o que ela acredita ser o mais importante para quem atua na área do jornalismo. “Apenas saber usar as tecnologias não é suficiente. Tem que pensar no que vai escrever, para ter uma  opinião crítica sobre o assunto”, concluiu.

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