Agenda Convida recebe idealizadora do projeto O Silêncio das Inocentes

Thais Borges compartilhou histórias sobre a sua vida profissional e contou sobre a dedicação a um dos projetos mais elaborados do jornalismo baiano

Por Yananda Lima

O Agenda Convida, na tarde do dia 18 de abril, trouxe como convidada a jornalista Thais Borges. A jovem compartilhou seu conhecimento através de dicas sobre como uma boa entrevista pode ser feita e contou sua experiência à frente do projeto jornalístico O Silêncio das Inocentes, especial de grande repercussão na Bahia, com mais de 60 mil acessos em uma semana de lançamento.

Formada no primeiro semestre de 2014 pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Thais trabalha há 4 anos como repórter de cidade no Correio*. A jornalista é uma das idealizadoras da produção multimídia produzido pelo Correio*, um dos jornais impressos de maior circulação no estado.

++ Saiba Mais: Jornalismo digital e o ambiente de convergência

Como fazer uma boa entrevista

Ao longo de sua vida profissional, a jovem jornalista de 22 anos produziu mais de 600 matérias e milhares de entrevistas. Sobre elas, Thaís Borges compartilhou alguns casos interessantes e ofereceu alguns conselhos aos ouvintes.

“Anote sua entrevista, mesmo que esteja gravando”

Thais explica que nem sempre é necessário gravar, como em reportagens com deadline apertado e com muitas fontes das quais só serão retiradas, inevitavelmente, uma ou duas aspas. No entanto, a jornalista ressalta a importância da gravação no caso de perfis ou pautas mais específicas, lembrando que é sempre bom anotar pontos importantes. “Já perdi entrevista com o prefeito! A sorte é que era coletiva e eles mandaram áudio pra todo mundo. Imagine se fosse uma entrevista exclusiva?” conta hoje dando risada.

“Escute a sua fonte”

A jornalista conta que é muito comum para os graduandos no início do curso se prenderem às perguntas que fizeram e não perceber que o entrevistado já respondeu, por vezes, repetindo-as. “Você pode trazer outra pergunta que tenha mais a ver com o que ele está falando. Não é obrigatório seguir roteiro fechado. Improvise!”, defendeu.

“Quando o entrevistado não quiser responder alguma coisa, a depender do contexto, respeite”

A variável se refere à vida do entrevistado e ao quanto esse assunto pode ser delicado. “A vida da fonte pode até ser pública, mas não é de interesse público, mesmo considerada de interesse do público”, pontua.

Outros pontos tocados por Thais durante as quase 2h de bate-papo referem-se ao processo de apuração e a relação com a fonte. Para os futuros jornalistas, ela aconselhou: “Vocês enquanto jornalistas não devem se censurar. Perguntem tudo”, concluiu.

O Silêncio das Inocentes

O Silêncio das Inocentes denuncia uma mudez que em nada se relaciona com calmaria. O sigilo que sufoca mulheres vítimas de violência sexual é exposto através do relato de sete mulheres que aceitaram falar sobre seus traumas. “O simples fato de falar é doloroso, é complicado, mas ele não podia mais ter esse domínio sobre mim, de me calar por tantos anos”, aponta Andrea, uma das entrevistadas no especial.

Um dos resultados da repercussão da reportagem foi o incentivo à denúncia de outras vítimas de violência sexual: pelo menos 5 mulheres procuraram o Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem) depois da leitura das matérias.

O projeto propõe a reflexão sobre o que é estupro, o que acontece com as vítimas e porque elas se calam, através de um conjunto de matérias que exploram as características do jornalismo digital, com texto, vídeo, áudio e hiperlinks. Entre as sete mulheres, duas da reportagem ainda são menores de idade. E entre os sete casos, nenhum dos acusados foi julgado ou punido.

Durante a conversa, Thais Borges apontou a importância de uma ‘militância jornalística’ com responsabilidade social, citando como exemplo o caso da Escola Base. “A gente comprou a briga delas, mas não acusou ninguém. Não podemos acusar ninguém”, ressalta.

Além de problematizar um tema ainda pouco discutido no jornalismo, o especial multimídia também surpreende por seu design gráfico e simbolismo. Entre as referências, estão os áudios com relatos das vítimas que não podem ser interrompidos relacionando-se a impossibilidade de se interromper o sofrimento causado pelos estupros, e a cor lilás do projeto – símbolo da luta feminista.

A próxima edição do Agenda Convida será realizada no dia 09/05, com a participação do ex-repórter do Globoesporte.com/ba, Eric Carvalho, para falar sobre sua experiência no jornalismo esportivo. As inscrições podem ser feitas através do formulário: http://bit.ly/22OhahB.

DSC_8945

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *