#Enecult: Simpósio na UFBA discute caminhos da cultura e da política brasileira

Mesa contou com a presença de professores e pesquisadores da área

Por Ícaro Lima

Como se configura o cenário cultural e político brasileiro atualmente? Foi esse o ponto central do simpósio “Cultura e política no velho Brasil atual”, realizado na última sexta-feira (2) como parte do XV Enecult – Encontros de Estudos Multidisciplinares em Cultura, ocorrido na UFBA.

A mesa foi coordenada pelo professor da UFBA e pesquisador em cultura Albino Rubim, que abriu a discussão exaltando os 15 anos de existência da reunião que recebe pesquisadores, professores e acadêmicos do campo da cultural de todo o Brasil. “O Enecult não é apenas um encontro acadêmico. Nesse momento, há um simpósio sobre capoeira e há os mestres de capoeira. É uma tradição do Enecult convidar os atores, agentes, não só os estudiosos”, destacou.

Rubim também ressaltou a importância do encontro ser um amplo espaço para a discussão de assuntos históricos e também de temas atuais, fazendo análises de diversos momentos do país. “É importante o Enecult estar colado aos temas contemporâneos”, disse.

Além de Albino Rubim, compuseram a mesa também o professor e escritor Renato Ortiz (UFBA) e o também professor e economista José Sérgio Gabrielli (UFBA). Já na plateia, cerca de 20 pessoas (entre professores, pesquisadores, produtores culturais etc), denominados “debatedores”, que tiveram a missão de comentar e fazer perguntas sobre as proposições dos expositores ao final de suas falas. Houve também, é claro, espaço para o público geral realizar seus questionamentos. 

O poder da internet
O professor Renato Ortiz falou sobre as relações entre mídia e sociedade no Brasil e suas implicações para a manutenção de um Estado democrático, inclusive citando a evolução dos meios de comunicação que agem como técnicas democráticas em contraponto as que são mais “elitistas”. 

“A internet é a expressão do indivíduo, não da massa. Nesse sentido, não temos dúvida: a internet é muito mais democrática que a televisão”, disse. 

Porém, como ressalta Ortiz, há alguns pontos negativos nesse uso, a partir do momento em que a internet é utilizada com fins negativos ou quando ela serve como confirmador de crenças de certos grupos, criando “muros digitais”, nos quais predominam a “intolerância” e a “estupidez”.

A organização política no Brasil
Já o ex-professor da UFBA e economista José Sérgio Gabrielli apresentou o tema “Cultura, política e presente da direita: Ideologia, preconceitos e organização”, e discutiu mudanças no comportamento de artistas brasileiros em relação aos seus posicionamentos políticos.

Segundo Gabrielli, atualmente há uma maior necessidade dessa classe se posicionar: “Nesse momento, os artistas voltam a ter um papel fundamental na luta contra o obscurantismo brasileiro”, comentou. Ele apresentou uma linha do tempo do cenário político brasileiro e como as sociedades civil e artística se organizaram, desde o movimento “Diretas Já”, no início da década de 80 até as “Jornadas de Junho”, em 2013.

De uns anos pra cá, de acordo com Gabrielli, houve uma diluição simbólica das políticas culturais no Brasil, que teve como efeitos a perda da identidade nacional, a desconstrução do legado dos povos indígenas, o combate a tradições negras, ataques à liberdade sexual e combate à diversidade e livre pensar.

Para ele, o Brasil passa hoje por um momento de disputas, causado pela recessão e estagnação financeira, e também há em alguns países uma grande redefinição dos processos eleitorais. “Nós temos um novo ciclo de ação política”, comentou. 

Logo após essas exposições, abriu-se espaço para blocos de comentários e perguntas dos debatedores e o público geral. Várias questões foram levantadas, fazendo o debate continuar aceso e com uma grande variedade de visões e ideias. 

Ao final do evento, a Agenda Arte e Cultura conversou com José Sérgio Gabrielli sobre sua participação no evento. “O que eu tentei demonstrar é que existem mudanças muito profundas na sociedade e que isso se reflete no comportamento das ações dos atores da área cultural. E essa mudança se dá não somente no Brasil, mas também no plano internacional com uma desconstrução da democracia, uma desmontagem do que conhecemos como democracia representativa”, disse.

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