Bate-papo sobre inovação e sustentabilidade encerra Pint of Science em Salvador

Com um tom político e uma proposta socialmente engajada o evento busca democratizar o saber

Por Noédson Santos

Descontração e informalidade são marcas essenciais do Pint of Science. Entre brindes e petiscos a conversa vai se desenvolvendo e convidando todos à reflexão sobre temas atuais. Em sua 4ª edição, o festival comemora a participação de 85 cidades brasileiras. Na noite desta quarta-feira (22), aconteceu em Salvador a última sessão do ciclos de discussões que reúne pesquisadores e cientistas em volta de uma mesa de bar.

Segundo os organizadores, a ideia é “derrubar intermediários entre o cientista e a sociedade, estabelecendo um canal direto de conversa”.

(Foto: Noédson Santos)
(Foto: Noédson Santos)

Para Maria Espínola, o Pint of Science foi criado para celebrar a ciência. “Trazer a pesquisa e o cientista para o bar. Transformar a ciência em conversa de boteco. Democratizar o acesso à ciência e acima de tudo celebrar a perseverança dos pesquisadores e cientistas brasileiros”.

O professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) Paulo Alberto Paes Gomes intermediou a conversa no Tampinha Bar e Restaurante sobre o papel da universidade na construção de um futuro melhor. Sob a perspectiva da sustentabilidade, o professor lança a seguinte pergunta: “será que a gente está indo para o lugar certo?”, e responde esperançoso: “eu acho que há futuro. Mas só haverá futuro se mudarmos os planos”.

“A gente tem hoje uma ameaça terrível, que é o estilo de vida que levamos, aliado ao modelo econômico vigente. E aqui não se está falando de capitalismo ou de socialismo. Todos os regimes adotaram o mesmo formato absolutamente insustentável, que é o modelo da economia linear”, afirma Paulo Gomes.

O professor destaca também a produção de lixo. “Gera-se muito lixo e muitos custos para transportar, descartar e armazenar todos esses resíduos. A quantidade de energia e recursos naturais  usados para administrar todo esse lixo é absurda”.

Inovação não-linear é a ponte para o futuro
Repensar as práticas e tentar adequá-las às limitações do nosso planeta tem sido um dos grandes desafios da modernidade. É nesta medida que a inovação, tanto a empresarial, quanto a social, tem ganhado destaque nos planos de ação dos governos e organizações ao redor do mundo.

O professor Paulo Gomes, ressalta que a forma de inovação tradicional não é a saída para o que precisamos. A fórmula: pesquisa básicapesquisa aplicadadesenvolvimento tecnológicoinovação já não é suficiente para atender as necessidades do mundo.

Sob o seu ponto de vista, inovação “é um processo incerto por natureza, depende da circulação de ideia, do trabalho compartilhado, funciona muito na base da tentativa e erro e tem um fator fundamental: o timing. No mundo da inovação a palavra de ordem é “kaos”. Não há ordem e linearidade na inovação”.

De acordo com esse ponto de visto, o cientista não necessariamente seria o sujeito inovador da contemporaneidade, o perfil do inovador é rebelde, polímata, holístico, indisciplinado, “good enough” e resiliente. Na ponderação de Paulo Gomes, Steve Jobs é um bom perfil de inovador, “ele criou o inesperado e produziu resultados duradouros. Por isso, acabou mudando toda a lógica mundial”.

A tríade universitária é o bastante?
Destacando o papel da universidade, o ex-coordenador de inovação da UFBA, observa que é preciso haver mais integração entre a graduação, sociedade civil e pós-graduação. Só assim será possível produzir inovação (não linear). Defende, também, que a inovação seja um dos pilares da Universidade, equiparando-se ao ensino, a pesquisa e a extensão.

“A universidade sempre foi muito boa em produzir pesquisa. Somos muito bons nisso. A UFBA é uma das melhores nessa área. Entretanto, isso não tem muito a ver com inovação”, destacou Paulo Gomes, que já fez parte da Cátedra Unesco de sustentabilidade. Como ensaio de inovação, ele apresentou ao público um tipo de polímero que desenvolveu a partir de seus estudos físicos para ser usado em substituição às madeiras nas obras de construção civil.   

A última sessão de debates da 4ª edição do festival foi muito bem recebida pelo público baiano. Houve muitas perguntas e interesse pelos tema, o que tornou o bate-papo ainda mais caloroso e instigante. Demonstrando que inovação e sustentabilidade estão mais presentes no dia a dia da população do que se imagina.

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