Salvador recebe reestruturação da Casa da Palavra Ruy Barbosa

Museu dedicado ao jurista e jornalista baiano terá estações audiovisuais, estúdios interativos e espaços para eventos

Estações audiovisuais, estúdios interativos e espaços para eventos populares de cultura – de batalhas de slam, rap e poesia a concursos de redação. Ao mesmo tempo, um mobiliário clássico e esculturas que serão totalmente recuperadas. Essa é a proposta da requalificação do Museu Casa de Ruy Barbosa, apresentada nesta quarta (9), pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), no Centro Histórico de Salvador.

Assinado pelo curador Gringo Cardia, o projeto inclui a requalificação e transformação da casa onde o jurista e jornalista nasceu, na rua que leva seu nome, também no Centro. Reconhecido internacionalmente, Cardia, através de seu estúdio, é o nome responsável pelos projetos de alguns dos mais importantes museus da história recente de Salvador, como a Casa do Carnaval, a Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai, e a Cidade da Música da Bahia.

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Lançamento do projeto Casa da Palavra Ruy Barbosa. Foto: Fábio Marconi.

De acordo com Cardia, a casa necessita de muita restauração. “Ela precisa de uma reforma geral, mas é muito boa porque ela já foi construída com uma arquitetura para os trópicos, fresca. Mesmo sem ar condicionado, ela já tem uma climatização”, destacou. O plano museográfico prevê uma narrativa contemporânea para apresentar a história e o legado do jurista, político, intelectual e jornalista baiano Ruy Barbosa (1849-1923), uma das personalidades mais importantes do Brasil do século XIX e XX.

Renovação

O conceito do novo museu está presente desde o novo nome – Casa da Palavra Ruy Barbosa, segundo o diretor de cultura da ABI, Nelson Cadena. “Vamos ressignificar a palavra de Ruy Barbosa, atualizar essa palavra que permanece viva há mais de 100 anos”, explicou, durante a apresentação do projeto. 

O imóvel será dividido entre os dois andares. No primeiro andar, haverá um espaço chamado de Salão do Grande Homem e da Liberdade, com monitores para que visitantes tenham acesso a vídeos e conteúdos interativos. Nesse local, ficará também o mobiliário clássico, como esculturas, quadros, retratos e objetos relacionados ao intelectual. Haverá, ainda, o Café da Liberdade de Imprensa, com móveis e paredes visuais relacionados ao tema. 

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Projeto desenvolvido pelo curador Gringo Cardia. Crédito: A Casa Gringo Cardia Design.

Até a escada que leva ao primeiro andar será plotada com conceitos ligados ao pensamento de Ruy Barbosa. Já nesse pavimento ficarão dois estúdios interativos: o primeiro será profissional, totalmente equipado para gravações gratuitas de podcasts sobre direitos fundamentais, enquanto o segundo será um estúdio amador. Nesse último, visitantes poderão se sentir como repórteres e até gravar uma notícia diante de uma parede de chroma key.  

Ainda no segundo andar, ficará o Salão Ruy Barbosa, com configuração multiuso e cabines de vídeos, e uma galeria de heróis baianos defensores da liberdade, incluindo também nomes como Maria Felipa, Maria Quitéria e Luís Gama. A obra de engenharia civil inclui toda a adequação do espaço para que o museu também tenha acessibilidade, inclusive a instalação de elevadores. 

“Em se tratando de Gringo Cardia, a gente já esperava que tivesse um projeto expográfico moderno e que, ao mesmo tempo, dialogasse com o passado. Além do expográfico, tem a coisa conceitual, porque Ruy Barbosa sempre se expressou através da palavra. Tudo que ele escreveu e falou está muito presente hoje na sociedade”, acrescentou Cadena. 

O curador, por sua vez, destacou que pretende trazer o “pensamento ruyano” para o presente. Para Gringo Cardia, a proposta é de fazer um paralelo entre o grande homem que foi Ruy Barbosa, enquanto comunicador e propagador de ideias, e  a juventude de hoje. Daí veio a ideia dos ambientes interativos, como os estúdios que ficarão no segundo pavimento. 

“Esse ambiente simboliza a conversa do comunicador do início do século XX com os comunicadores da atualidade, fazendo o link entre passado e presente e reforçando que os valores não se perdem com o tempo”, disse Cardia. 

Financiamento

Ainda no evento, o presidente da ABI, Ernesto Marques, anunciou um financiamento coletivo que possibilite a obra da Casa da Palavra. “Este museu nasceu pelos esforços coletivos da sociedade baiana. Com esse mesmo espírito de agregação, solidariedade e trabalho coletivo, estamos convidando vocês para que mais uma vez a sociedade baiana se reúna para uma tarefa mais do que nobre, que é manter viva a memória de um grande baiano, brasileiro e amante da justiça”, pontuou, no encontro. 

A partir de agora, haverá diferentes frentes de atuação. Já nos próximos dias, será lançada uma campanha de financiamento coletivo para ajudar a conseguir os recursos, com foco especial na restauração do acervo. Ao todo, o projeto tem custo estimado de R$ 7 milhões. A outra linha de atuação será buscar apoio de empresas privadas através de leis de incentivo ou de organismos públicos que trabalhem com editais. 

“Estamos na expectativa de uma conversa com o governador do estado e com o governador eleito, para ver se o estado poderia nos apoiar com as obras civis que são necessárias, como o estado fez em quatro oportunidades anteriores, ao longo desses mais de 70 anos de funcionamento do museu”, disse Marques. Após essas obras civis, viriam as obras de instalação e de segurança. 

Oportunidade educacional

Presidente do colegiado que organiza a agenda comemorativa pelo centenário de Ruy Barbosa, o professor e vereador Edvaldo Brito ressaltou a importância do museu para a educação dos jovens. “Um não é um repositório de coisas velhas. Um museu é sempre um elemento fundamental para transmitir às gerações sucessivas os feitos que são daquela civilização. No nosso caso, Ruy Barbosa é a maior expressão do direito, do jornalismo e da cultura do Brasil”, ressaltou. 

Já a diretora do Instituto Anísio Teixeira, Cybele Amado, destacou que o equipamento será importante para os estudantes do estado. “Nós temos 27 núcleos territoriais de educação e a ideia é que a gente possa disseminar isso no nível dos territórios, dos professores e dos estudantes. A gente vai montar trilhas territoriais para que os estudantes venham até Salvador e voltem e possam conhecer o museu”, explicou. 

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