Gênero e raça na política são debatidos em conferência na UFBA

O evento fez parte da programação do Novembro Negro que teve como tema Yabás: da ancestralidade à resistência

Por Lua Gama

Como é a representação da mulher no cenário político brasileiro? Para responder a esta questão, a primeira deputada estadual negra eleita para representar a Bahia na Assembleia Legislativa, Olívia Santana (PCdoB), palestrou, na tarde da quinta-feira (29), no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBA, a conferência Gênero e Raça na Política.

Olívia destacou que a estrutura política em vigor no país é representado majoritariamente por homens brancos e ricos, negando o lugar de mulheres e homens negros na participação política. “Nossa presença é de resistência! Não é fácil ser mulher negra, tentar furar esse bloqueio e ‘forçar’ a porta para entrar”, desabafou.  

Segundo ela, uma das formas que as mulheres encontram para entrar no meio político é por meio dos movimentos sociais e de militância, do qual ela faz parte desde o período que estudou na UFBA. “Quando a gente faz essa discussão sobre mulher e política, a maior ferramenta que nós podemos ter é o feminismo. O feminismo não classista e antirracista”, ponderou.

A parlamentar citou que no estado com o maior número de pessoas que se declaram negros, esse número não se reflete na política. Quando se trata da participação feminina o número é ainda menor. Porém, Olívia contou que o movimento de mulheres foi o que mais se organizou para ocupar cargos nestas eleições depois do movimento sindicalista.

Mais mulheres e negros na política
O movimento feito por mulheres na política conseguiu uma mudança na legislação eleitoral, como a utilização do fundo partidário e a cota de 30% para a candidatura obrigatória de mulheres. Ela defendeu que o mesmo deve ser feito para que mais negros possam fazer parte da política.

“Estamos conseguindo avançar no movimento de mulheres, mas o movimento negro não conseguiu pautar um instrumento legal que implemente a política de cotas em campanhas eleitorais”, comentou.

Nessas eleições houve um maior número de mulheres eleitas principalmente negras e feministas em comparação com os últimos anos, fato comemorado por Olívia. Mas, devido ao sistema político atual, exercer esses mandatos não será fácil e que muito ainda deve ser feito. “Ganhar uma eleição não é fazer revolução: ganhar eleição é se inserir em uma estrutura de poder burguês, classista, racista e machista. Por mais tenebroso que seja o horizonte, não podemos sucumbir”, exclamou.  

Olivia Santana comentou sobre o resultado das eleições. Para ela, o movimento estudantil, LGBTQ+, negro e outros grupos sociais devem reagir às ameaças que possam surgir a partir dos próximos anos e não recuar por conta de uma “política do medo”.  “A situação para nós é grave e temos que ir para rua e dizer não. Nosso povo precisa ter atitude política para reagir a tudo isso”, disse.

A seputada retornará a UFBA para mais uma palestra na próxima quarta-feira (5), durante o 20º Encontro Internacional de Rede Feminista, com a mesa Feminismos, Políticas e Direitos.

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